Os 7 Princípios do Caminho Empreendedor – e como aplicá-los!

Sumário

O Caminho Empreendedor é uma metodologia própria da Semente Negócios, empresa de consultoria em inovação e empreendedorismo na qual tive a oportunidade de atuar ao longo de mais de três anos. Neste período de rico aprendizado, trabalhei ao lado de pessoas com as mais variadas habilidades. Colaborei apoiando empreendedoras e empreendedores de todo o Brasil a tirarem suas ideias de negócios do papel e desenvolverem novos produtos e serviços capazes de gerar receita e impactar positivamente suas comunidades e ecossistemas.

Como consultora de impacto e, depois, gestora de inovação social, acompanhei sonhos incríveis de transformação socioambiental ganharem vida. Pude enxergar os resultados positivos que colhemos quando a tecnologia e o conhecimento são aliados para alcançar um objetivo social e ambientalmente relevante.

Antes de atuar na Semente, eu tinha ouvido falar pouco sobre as teorias e metodologias de empreendedorismo e inovação. Meu conhecimento sobre a temática era muito mais baseado em vivências práticas e empíricas do “empreender com propósito”. Cresci acompanhando minha mãe na sua jornada de fundar e crescer uma empresa inovadora. Em um mercado complexo, a empresa foi movida pelo propósito de mudar as regras do jogo e permitir um acesso mais democrático e justo para contratantes de seguros imobiliários.

No meu primeiro estágio, trabalhei em uma startup de impacto que tinha desenvolvido uma nova tecnologia para produção de bioetanol sustentável. A empresa buscava uma forma de validar o seu modelo de negócio. Mas, apesar dessas experiências e de algumas leituras sobre a temática, conhecer a metodologia do Caminho Empreendedor e as bases teóricas com as quais ela dialoga foi o que despertou minha atenção e interesse nesse jeito “diferente” de criar empreendimentos.

Vemos uma mulher sentada à mesa em uma cafeteria trabalhando em seu computador (imagem ilustrativa).

O que é essa prática? Quais elementos constituem a base para que uma pessoa empreendedora possa trilhar a sua jornada de testar, mensurar e aprender diminuindo os níveis de incerteza?

A Lente da Validação de Hipóteses

O Caminho Empreendedor é uma metodologia viva e aplicável aos mais diferentes tipos de empreendimentos e setores. Conforme explicado no seu e-book próprio, a metodologia se baseia em conceitos como lean startup, customer development, business model e design thinking. A partir destes conceitos constrói um passo a passo acessível e adaptado ao contexto do empreendedorismo brasileiro. isso permite que através de uma série de atividades, marcos e indicadores, qualquer pessoa consiga tirar sua ideia de negócio inovador do papel e começar a aplicá-la na realidade prática.

Mas como qualquer estrutura de conhecimento, não basta você decorar uma lista de exercícios ou realizar os itens assinalados nas check boxes. A compreensão do que está por trás dos elementos é importante para que a pessoa empreendedora entenda o como e o porquê de ela estar realizando determinada ação em determinado momento.

Por isso, sempre que inicio um novo processo de consultoria com alguma pessoa empreendedora e sua equipe, faço questão de começar apresentando os princípios da metodologia. Isso faz com que estejamos alinhadas e na mesma página em relação às expectativas do que está por vir. Mas, além disso, parte da beleza destes princípios é que eles podem ser aplicados não apenas na criação de novos negócios. A meu ver, constituem uma base que ajuda na tomada de decisão em relação a qualquer projeto com o qual estejamos relativamente inseguros.

Me encanta a ideia de que qualquer grande “empreendimento” pode ser quebrado em empreitadas menores. Pedaços controláveis submetidos a testes ágeis, com parâmetros bem definidos para sua (in)validação. A validação de hipóteses é uma lente muito útil. Uma vez compreendida, pode ajudar no processo de tomada de decisão e desenvolvimento de iniciativas pessoais e profissionais — além, é claro, dos negócios inovadores.

Os 7 Princípios do Caminho Empreendedor

O caminho não é linear (ainda bem)

É comum imaginarmos nossa vida como uma linha reta, unidirecional. Isso impele em um movimento sempre para frente e, se possível, sempre para cima. Essa visão é reforçada em nós por uma noção mais ampla de que a história e o tempo também são unidirecionais e que nos encaminhamos sempre para o futuro.

Essa falsa noção de linearidade e eternos avanços pode nos levar muitas vezes à busca implacável por um sucesso que nunca alcançaremos, por sentimentos reforçados de frustração quando não conseguimos alcançar algo que havíamos almejado. É a sensação de que “estamos andando para trás”, quando não conseguimos conquistar algo da forma como gostaríamos.

Mas a verdade é que a vida, nossas trajetórias pessoais e profissionais e, igualmente, a jornada de empreender um negócio ou um projeto também não são lineares.

Os diferentes “estágios” de amadurecimento de um empreendimento se alternam e muitas vezes se sobrepõem. Ter conhecimento sobre eles e saber que em um dia você pode estar vendendo bem e no dia seguinte buscando novamente os seus entusiastas para validar uma nova hipótese é essencial. Isso para que não haja uma falsa ilusão de que isso é só uma fase.

O desenvolvimento é contínuo e cada momento trará desafios específicos. Cada situação demandará habilidades diferentes da pessoa que está empreendendo aquela iniciativa. Assim como trará também muitos erros e aprendizados. O que nos leva para o segundo princípio.

Vemos os ciclos de testes de validações com três esferas escritas: construir, medir e aprender numa retroalimentação. Texto: princípios do caminho empreendedor.
Ciclo de testes e validações.

Quando falhar é a base para o sucesso

Alguns mantras bastante comuns ao universo do empreendedorismo são os famosos jargões do mindset ágil. “Errar rápido e corrigir mais rápido ainda” ou o popular conselho “fail fast, fail cheap” (erre rápido, mas erre barato), direto do Vale do Silício. O problema, a meu ver, é que frases como estas se disseminam de forma generalizada e descontextualizada. Isso faz com que elas abram um espaço enorme para interpretações bizarras – e os estigmas da sua aplicação podem ser bastante desastrosos.

No entanto, se tem algo que é importante para qualquer pessoa, e mais ainda para pessoas que querem liderar uma iniciativa própria, é se acostumar com a ideia do erro. O erro vai acontecer, ele é inevitável e, mais ainda, ele é importante, pois faz parte do nosso processo maior de aprendizado.

Quando somos bebês e estamos aprendendo a dar nossos primeiros passos, aprendemos a caminhar depois de cair e levantar inúmeras vezes. Quem anda de bicicleta ou de patins sabe que o processo de errar e tentar de novo segue nos acompanhando na aquisição de novas habilidades. Ignorar o erro é o primeiro passo para afundar na falha.

Pois, ao acreditar que você deve evitar falhar ou que você é um ser especial e “diferente” de todos os demais com quem “isso não vai acontecer”, impede que você esteja atento e se prepare para os tropeços. Ou ainda, pior, impede que você construa uma sistemática para aprender de maneira rápida e organizada com os seus erros.

Por isso, se existe um conselho que eu daria para qualquer pessoa é: você inevitavelmente vai errar. Então, se organize para tirar o máximo de proveito de cada um dos seus erros.

Errar rápido e corrigir (mais rápido ainda)

Embora o manifesto Agile tenha sido elaborado em um contexto específico de empresas de desenvolvimento de software, a ideia de um “mindset ágil” tomou conta do universo corporativo e vem se popularizando de diferentes maneiras em múltiplas áreas.

Um dos princípios popularizados nessa lógica é: o erro é um componente inevitável do processo de desenvolvimento. Por isso, o importante é ter construído e implementado as ferramentas que permitirão às equipes identificarem o erro rápido e corrigi-lo mais rápido ainda, aprendendo com o processo.

O quadro do teste de hipóteses é uma das minhas ferramentas favoritas para acompanhar este processo.

Ele permite evidenciar em uma única página quais são as incertezas inerentes a determinada ação e mapear os testes que o time está se propondo a realizar. Possibilita também mapear seus resultados esperados para validar, ou não, aquela hipótese.

Quadro de hipóteses desenvolvimento pela Semente. Começa com o contexto(dúvidas, incertezas e pressupostos), passando para Hipótese (nós acreditamos que...), Teste (se nós fizermos...), Métrica e Meta (teremos o resultado e saberemos disso quando) e, por fim, Aprendizados e Próximos passos (dessa experiência podemos concluir que...).
Nosso melhor amigo na jornada empreendedora: o quadro do teste de hipóteses.

Feito é melhor que perfeito!

Eu gosto bastante de todos os itens aqui listados, mas preciso confessar que este é o meu princípio favorito. Dedicado a todas as pessoas perfeccionistas de plantão, o “feito é melhor do que o perfeito não feito” e todas as suas variações nos instiga a deixar de lado nossas dúvidas e inseguranças e criticismos e simplesmente colocar nossas ideias à prova, do jeito que estiver.

Fortemente relacionado com o conceito de Effectuation, esse princípio nos lembra que os projetos se constroem a partir da prática. Ou seja, do colocar a mão na massa.

Esses dias vi um post no Instagram que me lembrou, em uma ótima hora, de que o perfeccionismo também é uma forma de autossabotagem. Quantas vezes não dissemos a nós mesmas que determinado projeto ainda não estava “bom o suficiente” ou pronto para ir ao mundo, que ainda faltavam apenas algumas correções, aquele acabamento final? E quantas vezes essas não eram apenas algumas justificativas e desculpas para o nosso medo de colocar à prova e mostrar ao mundo o que tínhamos feito?

Eu gosto do medo, pois sem ele não existe coragem. Mas para que possamos avançar com os nossos projetos, precisamos abraçar a imperfeição. Por isso, da próxima vez que você pensar que determinada apresentação, texto, artigo, desenho, modelo de negócio, ou qualquer outra coisa ainda não está suficientemente boa para encarar o mundo, lembre-se que feito é melhor que perfeito. Defina um prazo interno para o lançamento e faça acontecer!

Aqui cabe um disclaimer

Não é porque o feito > perfeito e que “a vida acontece em MVP” que devemos usar essa lógica para justificar a falta de excelência ou de acabamento com nossos produtos e serviços. Pelo contrário, o que admitimos aqui é que a perfeição nunca será alcançada. Portanto, ficar iludido (e parado) buscando ou esperando por ela é um fatídico erro para qualquer projeto.

Agora, a excelência construída a partir do acúmulo de entregas e conhecimentos é algo que pode e deve ser buscado – e preferencialmente a partir do contato e das trocas com pessoas reais em contextos reais. Por isso…

Saia do prédio

Cunhada por Steve Blank, a recomendação “get out of the building” refere-se à importância de conhecer profundamente quem são os seus clientes no seu próprio ambiente, conversando com eles e os observando. Esse é uma forma de desenvolver o produto ou serviço baseado nas reais necessidades e desejos dessas pessoas – e não em uma ideia imaginária do que “achamos que eles querem”.

É claro que o ato de “sair do prédio” deve ser entendido no seu sentido metafórico, ainda que cada vez mais, tanto clientes de pessoas físicas como jurídicas frequentem ambientes virtuais para interações de trabalho.

O lembrete aqui é para que não nos deixemos enganar com as nossas ideias, vieses e pré-conceitos. Que estejamos sempre prontos para exercer uma verdadeira empatia com o nosso público-alvo. Procurar compreendê-lo e buscar soluções que sejam boas o suficiente para resolver o seu problema e, dessa forma, gerar valor.

Vemos um homem negro muito bem vestido sentado à mesa no que parece ser o seu escritório (imagem ilustrativa). Texto: princípios do caminho empreendedor.

E a melhor maneira de garantir que isso aconteça, desde o início, é abrindo um canal com esta pessoa e escutando ela de verdade. Claro, muitas vezes as pessoas também não sabem ou não têm clareza sobre quais são as suas reais necessidades e vontades. Por isso que eu sempre estimulo que empreendedoras e empreendedores conheçam sobre ferramentas de pesquisa exploratória e testes de mercado.

Sem dados não temos como validar resultados

Quando estamos muito empolgados com uma ideia de um novo projeto, é comum estabelecermos certos vieses e convicções baseados nas nossas vontades e ideais.

Embora a determinação e a coragem para realizar algo sejam importantes e desejáveis, a tomada de decisão baseada em “achismos” pode ser bastante perigosa para um novo empreendimento. Quando nós não temos explicitados quais são os resultados que queremos alcançar ou quando não temos os dados corretos para realizar o acompanhamento do nosso progresso e evolução, qualquer decisão a ser tomada cai numa disputa de retórica.

Por exemplo: se tenho como objetivo melhorar a minha performance nas corridas, e estabeleço um projeto pessoal para isso, vou querer anotar e acompanhar não só quantas vezes corro na semana, mas também quantos km eu consigo fazer em quanto tempo. Ou melhor ainda: quanto tempo levo para percorrer 1km (o famoso pace, ou ritmo).

Após realizar os treinos sistematizados por duas semanas, com estes dados anotados, vou conseguir observar se meu pace aumentou ou diminuiu, e como foi essa mudança.

Agora, vamos supor que eu tenha feito os treinos exatamente de acordo com o estabelecido, e mesmo assim não tenha notado melhorias significativas no meu ritmo de corrida. Sigo fazendo os mesmos 6 min por quilômetro de antes. Ou, pior ainda: vamos supor que meu ritmo tenha piorado,. Que em um dia eu tenha feito um ritmo record e, no dia seguinte, o pior de todos.

Qual a razão dessa variação? Seria porque naquele dia o tempo não estava bom? Eu dormi mal na noite anterior? Não me alimentei direito? Me distraí ouvindo um podcast? Ou talvez o aplicativo que eu uso tenha dessincronizado? Sem o acompanhamento e coleta de outras informações básicas e necessárias, qualquer decisão que eu tomar aqui será baseada em um achismo, em uma crença que não é suficiente para orientar a avaliação dos resultados de maneira significativa.

Por isso, ao iniciar um novo projeto, defina bem quais são suas metas e objetivos, mas não só.

Vá atrás dos dados verdadeiros, de ações concretas que, ao chegar no final do período proposto para o teste, irão te permitir saber se o resultado alcançado foi significativo, ou não, e as razões para isso.

Aprenda fazendo

O último dos princípios do Caminho Empreendedor está aqui para nos lembrar que o aprendizado empreendedor não acontece apenas no universo do teórico, na leitura de artigos e nos intermináveis planejamentos. Sim, planejar as ações, ir atrás de referências, ler sobre o mercado e buscar debates teóricos na área onde se quer atuar é bastante importante, inclusive para criar repertório.

Mas nada, absolutamente nada, substituirá a ação prática do fazer. É a diferença que se percebe entre ler um livro de receitas culinárias, assistir à Ana Maria Braga preparando um bolo e você mesmo ir lá e se colocar a adquirir os ingredientes, fazer a massa, montar o recheio, escolher a forma e entregar a sobremesa na hora certa para o jantar.

Por mais atenção e minúcia que você tenha ao ler a teoria, o aprendizado que virá da prática é único. Os maiores desafios e dúvidas (e também os maiores insights) vão aparecer quando você estiver fazendo. Empreender um negócio, um projeto ou a vida é isso. Busque praticar, e “aprenda fazendo” sem medo de errar.

Vemos que algumas pessoas estão no que parece ser uma sala de reunião trabalhando em conjunto (imagem ilustrativa).

Bônus: Aprenda a aprender!

A descrição dos itens aqui listados são leituras e interpretações minhas. Foram construídas a partir dos três anos e meio aplicando a metodologia do Caminho Empreendedor em diversos projetos junto à Semente. Existe, porém, um oitavo princípio — que é na verdade um “meta-princípio”.

Aprender a aprender é, pra mim, uma das principais habilidades que qualquer pessoa pode desenvolver. Significa desenvolver a capacidade de empreender o seu próprio processo de aprendizagem, de estar aberta aos desafios e oportunidades e encarar o desconhecido com um olhar genuíno de curiosidade.

Em outras palavras, significa ficar confortável com não ter o domínio de todo o conhecimento necessário para lançar o seu projeto. Afinal, a quantidade de informação lá fora cresce numa velocidade muito maior do que qualquer um de nós somos capazes de consumir — e tudo bem.

O problema não é “não saber fazer alguma coisa” ou “não ter a habilidade x ou y”. Mas é não saber como buscar esse conhecimento.

A verdadeira aventura acontece quando nos damos conta de que somos seres mutáveis, capazes de nos transformar e expandir nossas capacidades em qualquer direção. Por meio de um processo de descoberta e prática, nos tornamos aptos a aprender qualquer coisa que seja necessária para navegar pelas águas incertas desta jornada.


Texto escrito por Luciana Brandão. Atuou como consultora de Impacto e gestora de Inovação Social na Semente.

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Semente Negócios
A Semente desenha soluções de inovação que valorizam a vida, trazendo o impacto para o centro das tomadas de decisão em diferentes áreas. Somos uma empresa que visa contribuir para a evolução de ecossistemas de empreendedorismo, alavancar o empreendedorismo inovador como instrumento de mudanças socioambientais e aumentar as competências de inovação em grandes organizações. Acreditamos na inovação como meio e o impacto como fim. Por isso, em todas as nossas frentes de atuação, buscamos promover a prosperidade econômica, social e política através da inovação.

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