Não costumo abrir debates sobre o futuro mas nós precisamos falar sobre valor compartilhado e o futuro dos negócios.
Muitas empresas ao longo dos anos tem falado sobre e trabalhado ações de responsabilidade social. E em geral são ações que visam “devolver à sociedade” ou “compensar” algum dano causado pela exploração de recursos naturais. E, infelizmente, essas práticas acontecem, em sua maioria, por pressão da sociedade civil ou de leis governamentais para preservação de recursos naturais – os quais as empresas muitas vezes fazem uso de forma inconsequente e comprometem a disponibilidade para as próximas gerações. Porque a verdade é que o mundo não vai acabar: o que vai acabar são as condições para a existência de vida humana no planeta!
Mas, e se eu te disser que no futuro – e em um futuro mais próximo do que você imagina – o impacto social e ambiental será incorporado à estratégia de negócio das empresas, ajudando a melhorar os indicadores de produtividade e também o lucro obtido por elas?
Essa diferença pode parecer estranha mas na prática é assumir uma postura de deixar de ser um agente reparador do dano causado e passar a ser um agente transformador na sociedade, defendendo as necessidades dela e trabalhando para o desenvolvimento como um todo. O conceito é conhecido como Valor Compartilhado e na prática é entender que toda geração de valor econômico deve gerar também um valor real e tangível para a sociedade.
Estranho para quem quer apenas maximizar os lucros, não?
Mas é isso.
Responsabilidade social é mensurada em poucos casos. Até há estudos que mostram que empresas que investem em sustentabilidade são mais valiosas na bolsa de valores e são olhadas de maneira diferente pelos investidores. Porém, o Valor Compartilhado vai além – é redefinir o valor empresarial com mudanças geradas por ele na sociedade.
É entender que seu core business não é apenas produzir, construir, desenvolver. É levar em conta o território no qual sua empresa está e ter clareza de que você faz parte dele, como uma engrenagem que precisa de todas as peças para funcionar bem. E que pode alterá-lo de forma positiva, gerando longevidade para os recursos disponíveis, mão de obra qualificada e levando conceitos como geração de valor e diferencial competitivo para outro patamar. É ter clareza e de forma intencional permitir que o sucesso da empresa esteja diretamente conectado ao progresso da sociedade.
Um exemplo prático sobre isso
A Natura, maior multinacional brasileira de produtos de beleza desenvolveu em 2013 o IDH da consultora – o IDH-CN ou Índice de Desenvolvimento Humano das Consultoras da Natura como é chamado, baseado no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Desde de 2014, a empresa acompanha anualmente a qualidade de vida das consultoras nos quesitos de vida saudável, conhecimento e padrão-de-vida digno.
O IDH-CN mostrou, por exemplo, que as consultoras enfrentavam dificuldades de acesso à educação. Através da marca Crer Pra Ver, A Natura destina todo o lucro da venda desses produtos para o Instituto Natura que facilita o acesso das consultoras e de suas famílias a educação, com cursos de idiomas, cursos técnicos, acesso à universidade, entre outros.
Com isso foi possível proporcionar uma melhora significativa na qualidade de vida das consultoras (progresso social) e também o engajamento delas com a marca e o rendimento produtivo (sucesso da empresa). Atualmente outras soluções que abrangem educação, saúde orientada à prevenção e acesso e direito da mulher estão em estruturação para que o Valor Compartilhado da empresa ganhe ainda mais capilaridade.
Como você pode incorporar Valor Compartilhado à sua empresa?
O Valor Compartilhado está diretamente ligado a valor social e ambiental. Michael E. Porter e Mark R. Kramer apontam 3 caminhos para isso:
- Reconceber produtos e mercados: passar a olhar para mercados e necessidades que na prática ainda não são vistos como mercados consumidores. Como é o caso de negócios voltados à base da pirâmide, a exemplo do microcrédito para pequenos empreendedores;
- Redefinir a produtividade na cadeia de valor: entendendo que os problemas sociais trazem custos para a cadeia de valor da empresa, abre-se a oportunidade de reavaliar e entender como criar outras alternativas para o uso mais consciente dos recursos e incorporação de outros players no processo, como acontece com as soluções de redução de emissão de poluentes e produção de embalagens e melhor uso dos recursos naturais;
- Montar clusters setoriais de apoio nas localidades da empresa: entendendo clusters como concentrações geográficas de empresas e/ou recursos de infraestrutura, promover o desenvolvimento local pode melhorar a produtividade e solucionar falhas estruturais, a exemplo das ações de inclusão de raça e gênero dentro das organizações ou a promoção de ações que resolvam lacunas estruturais como no exemplo da Natura.
Se você se interessa por esse assunto e/ou precisa de ajuda para incorporar Valor Compartilhado à sua empresa, vamos conversar. Vai ser um prazer poder ajudar a tornar sua empresa mais competitiva e colaborar ativamente com o progresso social.