Uma das condições necessárias à consolidação de um ecossistema de inovação pujante é o surgimento de startups que ganhem escala e se tornem empresas de sucesso. Dado que, na realidade, os dois pontos se reforçam em um ciclo virtuoso, exploraremos no artigo como a Semente contribui para a evolução de ecossistemas de inovação nas cinco regiões do Brasil, seja no mapeamento de atores, capacidades e potenciais do ecossistema, seja no desenho e execução de programas de desenvolvimento e aceleração de startups.
O nosso repertório
A construção de um repertório ao mesmo tempo amplo e profundo demanda tempo, atuação consistente, muita interação com os diferentes atores e uma iteração frequente para a customização e adaptação da abordagem, para gerar experiências relevantes de aprendizado e, no final das contas, valor de verdade para clientes e sociedade.
Na Semente, esse repertório foi construído ao longo dos últimos 10 anos, na interação direta com mais de 10mil empreendedores das milhares de startups atendidas. É uma satisfação e um privilégio poder afirmar que a consolidação das nossas metodologias passa pelo teste do tempo e da quantidade de pessoas empreendedoras atendidas, nos mais diversos contextos organizacionais e territoriais.
Desta experiência e seus aprendizados emergem dois eixos fundamentais do nosso desenho, desenvolvimento e execução de soluções: 1) o entendimento do ecossistema e da realidade empreendedora na região foco do programa; e 2) o entendimento dos “porquês” daquele programa, ou seja, qual é a visão de futuro sendo expressa ali.
Ponto 1: O entendimento do ecossistema e da realidade empreendedora na região foco do programa.
Um bom programa deve considerar o estágio de desenvolvimento das startups e dos diferentes atores da região. De que adianta desenhar e rodar conteúdos avançados para startups em estágios iniciais ou fazer bootcamps e hackthons para startups em crescimento acelerado em busca de aceleradoras e investidores? Compreender a situação e o histórico do ecossistema foco é o primeiro passo.
a) Quais são os principais atores do ecossistema?
A ideia aqui é entender quem são as pessoas e quais são as instituições-chave nas interações daquele ecossistema. Há startups buscando espaço no mercado? Há universidades formadoras de talentos? Há incubadoras e parques tecnológicos fomentando novos negócios? Há aceleradoras focadas no crescimento das startups? Há investidores e fundos dispostos a aportar dinheiro e conhecimento? Há clientes potenciais, sejam estes organizações (empresas, governo e/ou OSCs) ou pessoas físicas? A ideia já está bem clara, não é mesmo?
b) De que forma acontecem as interações neste ecossistema?
O ponto-chave aqui é entender o volume e grau de conexão entre os atores desse ecossistema. Ambientes com múltiplos pontos de contato tendem a serem mais favoráveis ao desenvolvimento de iniciativas inovadoras e ao desenho e execução de um bom programa de aceleração.
Há que se questionar se existem e quais são os pontos de contato? Qualitativamente, como ocorrem as conexões? Já são realizados eventos tais como startup weekend, hackathons e maratonas de empreendedorismo? Que tipos de conexões há entre os diferentes atores? Há conexão entre empreendedores?
c) Já houve algum programa de aceleração de startups antes? Como foi? Quem facilitou? Há resultados perceptíveis?
Finalmente, é importante saber se já houve programas de aceleração de startups antes e, em caso positivo, aprofundar a investigação e compreender os detalhes do programa, desenho, execução, resultados, etc. Isto inclui contactar e entrevistar participantes, parceiros e executores do(s) programa(s). Caso ainda esteja rodando, vale compreender o que pode ser trabalhado em termos de diferenciais competitivos, tanto em termos de desenho e metodologia, quanto em termos de comunicação e execução.
Ponto 2: A visão de futuro sendo expressa
Afinal, por que criar um programa de aceleração de startups? Quais são os objetivos, o que se pretende alcançar? O foco é fomentar um ecossistema mais maduro? Ou resolver um problema específico de determinado segmento ou nicho? Compreender a perspectiva de futuro muda tudo, o desenho da solução, o conteúdo, a dinâmica dos encontros e até mesmo a definição de sucesso para os negócios.
Depois de quase 10 anos, é quase impossível falar da nossa atuação no fomento do ecossistema de inovação sem falar de nossa parceria com o SEBRAE. No Rio Grande do Sul por exemplo, apoiamos a criação e executamos em conjunto o maior programa de pré aceleração de startups do estado, o StartupRS. Ao longo dos anos, ele evoluiu e hoje suas diferentes trilhas atendem startups em fases de ideação (StartupRSStart), produto (StartupRS Digital) e escalada (StartupRSScale).
Como a ambição é uma contribuição relevante para o ecossistema como um todo, há uma turma focada em saúde, o StartupRS Health. Temos orgulho de afirmar que este programa já impulsionou diversas startups do segmento.
Ainda em parceria com o SEBRAE, agora no Maranhão, desenhamos e executamos um programa focado na inovação e transformação digital para pequenos negócios. Assim, possibilitamos que negócios tradicionais possam se beneficiar dos conceitos, ferramentas e práticas que startups em ecossistemas mais maduros utilizam para evoluir e prosperar, de forma coerente com o contexto local.
Fica claro que tanto o contexto local quanto os objetivos mais amplos influenciam significativamente o como programas são desenhados e executados. E quanto melhor o fizermos, mais impacto relevante é gerado na ponta, que é o que realmente importa.
Desenho x Execução
Ainda na batida dos aspectos importantes para o sucesso de programas de aceleração de startups (ou quaisquer outros programas de fomento a um ecossistema de inovação), é importantíssimo lembrar que, no final das contas, de nada adianta desenhar algo maravilhoso se não estivermos atentos à execução, onde o desenho e a metodologia são colocados à prova quando combinados a aspectos culturais e comportamentais. Com base nisto, construimos um framework para orientar nossos consultores na execução nas cinco regiões do Brasil e garantir a qualidade de nossos programas.
1. Empatia: O ponto chave.
Assim como, em geral, não há quem entenda mais sobre o próprio negócio do que a equipe da startup, dificilmente alguém entenderá mais sobre o contexto local do que as pessoas atuando naquela região. Pode parecer óbvio, mas é demasiado arrogante acreditar que basta chegar em diferentes contextos com uma fórmula pronta e “ensinar” as pessoas. Sim, vamos apoiar o seu processo de aprendizado e quiçá trazer alguns elementos novos, na forma de conceitos, métodos e ferramentas, mas é, para dizer o mínimo, imprudente nos colocarmos em uma posição de superioridade. Somos pares dos participantes, com competências complementares.
Este entendimento nos permite efetivamente facilitar processos de aprendizagem, permitindo que as pessoas possam, gradualmente, se tornarem melhores versões de si mesmas e consequentemente desenvolvendo melhores negócios. Fundamentalmente, a empatia nos permite respeitar e navegar em diferentes contextos e realidades, potencializando o aprendizado das pessoas e evolução dos negócios.
Um exemplo da empatia como ponto-chave é o VaiTec, programa que rodamos em parceria com diferentes organizações, entre elas a ADESAMPA, agência de desenvolvimento do município de São Paulo, e a Fundação Telefônica Vivo.
O Vai Tec – programa de Valorização de Iniciativas Tecnológicas – é um programa promovido pela agência de desenvolvimento da prefeitura de São Paulo para fomentar negócios de base tecnológica que estão nas periferias da capital.
O foco do VaiTec é desenvolver territórios periféricos através da solução de problemas reais, ampliando a oferta de vagas e também a geração de renda por meio de negócios que consigam crescer de forma rápida usando tecnologia.
Na periferia, modelos descontextualizados de replicação de programas tradicionais de startups não faziam sentido, entre outras razões por não contemplar as necessidades e realidade das empreendedoras e empreendedores da quebrada. Uma abordagem efetivamente empática nos permitiu olhar de forma apreciativa para os saberes daquelas pessoas e para os potenciais daqueles territórios, o que fez com que pudéssemos fazer com que a metodologia desenvolvida pela Fundação Telefônica Vivo para o Pense Grande pudesse evoluir e ser customizada a aquele empreendedorismo periférico.
2. A importância de um método consolidado
Outro ponto que ajuda a qualificar a execução é o uso de um método consolidado, o que dá acesso a um arcabouço de conceitos e ferramentas que facilitam muito o trabalho. Na Semente, utilizamos como base o Caminho Empreendedor. O CE é a nossa metodologia própria para desenvolver negócios inovadores, construída e constantemente melhorada a partir da nossa experiência com mais de 10.000 negócios.
O método mostra, na prática, o passo-a-passo da vida do empreendedor ao tentar desenvolver um negócio inovador, que:
- Auxilia a identificar o momento que o negócio está;
- Explora quais são os principais desafios relativos ao desenvolvimento do negócio e do empreendedor;
- Fornece ações sobre como o empreendedor deve proceder para realizar cada etapa com qualidade e assim minimizar os riscos ao longo de todo o processo.
Com ele, conseguimos orientar o desenvolvimento de qualquer negócio inovador, sem no entanto perder a flexibilidade para customizá-lo para diferentes contextos e realidades.
3. A influência do ecossistema de inovação na evolução dos negócios
Finalmente, voltamos a falar da importância do ecossistema de inovação para evolução dos negócios do programa. Para além do apoio institucional, a aproximação de diferentes atores do ecossistema local de inovação facilita o caminho a ser trilhado, desde a validação da ideia, passando pela conquista dos primeiros clientes e da busca por investimento, crescimento e consolidação do negócio. Abaixo segue o exemplo dos parceiros do StartupRS, fundamentais para o desenvolvimento das startups participantes.
INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO NO DNA
Na Semente, acreditamos que distribuir capacidade de inovação para diferentes pessoas em diferentes contextos e organizações é uma forte alavanca de desenvolvimento. A inovação e o empreendedorismo estão em nosso DNA, o que acaba sendo refletido em nossa interação com empreendedoras e empreendedores inovadores e se traduzindo em cada detalhe de como desenhamos e executamos programas de aceleração de startups: com foco no impacto, na resolução de problemas reais e na transformação positiva do mundo em que vivemos. Vem com a gente?