Começar uma startup e/ou um negócio de impacto social não é tarefa fácil. Mergulhar no problema e validar uma solução viável financeiramente, além de replicável, demanda investimento de tempo e dinheiro.
Neste post vamos falar sobre investimento de impacto e quais os caminhos para financiar negócios de impacto social.
Na hora de captar dinheiro a primeira opção que vem a cabeça é ir no banco, falar com o gerente e esperar pela melhor proposta com o menor juros, certo?
Calma, essa é apenas uma das opções e, em muitas casos, não é a mais indicada.
Vamos começar entendendo o que é investimento de risco.
A captação de recursos para realizar planos e projetos de alto risco e potencial de crescimento, a médio e longo prazo, chama-se Capital Empreendedor, Investimento de Risco ou ainda Capital de Risco.
É dinheiro entrando na sua empresa com o objetivo de escalar as operações e o impacto com contrapartidas diversas.
Ao contrário do empréstimo bancário em que os recursos serão devolvidos ao longo do tempo com juros, aqui a expectativa é que a empresa aumente drasticamente seu valor de mercado.
Outra diferença fundamental é que junto ao capital, os investidores fornecem apoio de gestão e aconselhamento para as empresas investidas, o chamado smart money.
Este, inclusive, é um ponto que o empreendedor precisa estar atento: priorizar investimento de capital e conhecimento. No smart money, é investido dinheiro e tempo com: coaching, mentoria, contato com parceiros, ajuda com novos clientes, serviços, espaço para trabalho e networking.
O Panorama de investimento de impacto no Brasil realizado pela ANDE Global (Aspen Network of Development Entrepreneurs) em parceria com a Semente mostra que os desafios atuais mais comuns passam pela própria captação de recursos/disponibilidade de capital somado ao veículo de investimento adequado.
O ciclo do investimento de impacto de risco
Antes de entrar nas fontes de financiamento, é preciso conhecer as diferentes faixas de investimento. O quadro abaixo apresenta as diferentes fases:
Aportes até um milhão de reais são conhecidos como capital pré-semente. Há três tipos de investidores que colocam dinheiro nesse estágio: plataformas online como de financiamentos coletivos, aceleradoras e investidores-anjo.
Na segunda fase, os investimentos chegam a até seis milhões de reais. Para essa etapa, o empreendedor pode contar com capital semente de investidores anjo, com plataformas online ou, o mais comum, com fundos de investimento especializados que se diferem pelo tamanho do investimento.
Investimentos até 30 milhões são feitos por fundos de venture capital. Acima disso, na fase de maturidade em que o negócio está prestes a abrir capital na bolsa, o investimento é feito por private equity.
Fontes de financiamento para negócios de impacto
Família e Amigos
Essa é a maneira mais rápida de começar qualquer negócio. Conhecido como FFF, family, friends and fools do inglês, trata-se de recursos próprios ou de família, amigos e conhecidos. A contrapartida pode ou não existir e é combinado caso a caso.
Aceleradoras
São estruturas jurídicas que gerem um fundo da aceleradora geralmente formado por dezenas de investidores anjos. A diferença para um fundo é que, além dos investidores poderem diluir o seu risco possuindo uma carteira de empresas, os negócios podem ter acesso a um grupo maior de mentores e rede ao seu negócio.
Há diversas aceleradoras hoje no país que trabalham com metodologias de aceleração específicas, como a WOW Aceleradora que a Semente ajudou a fundar.
Investimento-anjo
O perfil do investidor-anjo é de profissionais ligados ao empreendedorismo inovador, executivos e empreendedores experientes que investem recursos e conhecimento em novos negócios, em busca de retornos financeiros significativos.
Como o risco nesse estágio do negócio ainda é alto, normalmente, o investidor anjo exige altíssimos níveis de retorno em troca de uma porcentagem do negócio.
De acordo com o relatório da SITAWI Finanças do Bem sobre investimento de impacto, espera-se algo entre dez a trinta vezes o valor do investimento inicial em um período que pode variar entre quatro e sete anos.
Crowdfunding
A tradução do inglês é financiamento coletivo. O conceito cresceu muito nos últimos anos devido ao surgimento de plataformas que simplificaram o processo de captação de recursos, a famosa “vaquinha”.
A partir delas, desenvolvedores de projetos arrecadam fundos de apoiadores em troca de recompensas que vão de agradecimentos, presentes, à primeiras versões da solução/produto.
É o caso da empresa Herself, que precisava de investimento para começar a produção de seu produto e em menos de 140 dias ultrapassou a meta de arrecadação em 246% através do financiamento coletivo.
Equity Crowdfunding
Similar ao crowdfunding, o também conhecido como crowdequity ou Equity Crowdfunding é um meio pelo qual investidores realizam pequenos aportes na empresa.
Diferentemente do crowdfunding que acabamos de ver, nessa modalidade o investimento é em troca de uma participação no negócio. Os apoiadores tornam-se, então, sócios-investidores ou adquirem um título de dívida, que pode ser conversível em ações da empresa apoiada.
Nesse formato de título de dívida, o investidor passa a ser um credor da empresa, ficando mais protegido de um processo de falência, por exemplo, uma vez que ele não se configura como sócio da empresa até a conversão dos títulos.
Ele só se torna sócio após o término do prazo da operação estipulado por contrato, o que normalmente é entre três e cinco anos. Caso o investidor não queira cobrar essa dívida e receber em dinheiro, pode converter esses títulos, se tornando um acionista da empresa.
As vantagens das plataformas de crowdfunding de investimento é possibilitar um ambiente em que empreendedores e investidores possam se conectar mais facilmente, aumentando o número de empreendedores e investidores ativos em um mesmo ambiente, neste caso, o virtual.
Além disso, é a alternativa mais indicada para o investidor que está começando, pois dilui muito o seu risco.
No Brasil, podemos citar os sites: broota.com.br, o Eqseed e o eu-socio.com.br como os mais ativos no segmento. O primeiro está no ar desde 2014 e já tem 940 investidores ativos, tendo captado mais de 13 milhões de reais para 39 empresas. O Aula Livre é uma das empresas de impacto social que captaram investimento por ela.
ICOS
Não podemos deixar de citar aqui uma nova onda de Crowdfunding de investimento que sai das plataformas de crowdfunding para utilizar blockchain.
O crowdsale ou ICO, sigla para Initial Coin Offering são captações públicas de projetos e empresas, que funciona da mesma forma que o anterior, mas, aqui, os apoiadores ou investidores recebem um ativo digital.
Uma das principais vantagens de arrecadar recursos via ICO é o acesso a recursos globais, já que qualquer um ao redor do mundo pode contribuir com a sua iniciativa.
Alguns brasileiros já estão usando ICOS como fonte de investimentos. O projeto Swapy Network propõe uma solução de acesso à crédito de forma descentralizada. Algo como uma rede peer-to-peer de empréstimos só que baseada em blockchain, com recursos de identidade financeira.
Fundos de investimento de impacto
Os fundos de investimento são formados por grupos fechados de investidores, que podem ser empresas, pessoas físicas com capital relevante e investidores institucionais: fundos de pensão, organizações governamentais, entidades de fomento e bancos de desenvolvimento. Esses são os chamados cotistas do fundo, entidades que colocam o dinheiro para que o fundo possa existir.
Venture Capital é quando os fundos especializados investem até 30 milhões de reais sendo a escalabilidade do negócio, financeira e de impacto, crucial para o investimento. Geralmente são tickets de 2 ou 3 milhões.
Recentemente, foram criados Fundos de Venture Capital que buscam alinhar retorno financeiro com impacto social ou ambiental. Estes são chamados Fundos de Investimento de Impacto.
No Brasil, fundos como VOX Capital, MOV Investimentos, FIRST, GAG Investimentos, Kaeté Investimentos, Positive Ventures e INSEED Investimentos são exemplos de fundos que trabalham com investimento de impacto.
Já os fundos de Private Equity investem em empresas consolidadas, que já apresentam faturamento de dezenas ou centenas de milhões e a principal estratégia de saída é a abertura de capital, conhecida pela sigla IPO – oferta pública inicial em português.
Os investimentos de impacto no Brasil ainda correspondem a uma pequena parcela do mercado de capitais brasileiro. O total investido em private equity e venture capital no Brasil em 2016- 2017 foi de US$ 6,8 bilhões, por meio de 332 operações, de acordo com o Panorama da ANDE.
Subvenção econômica
É o investimento vindo do setor público e de institutos e fundações, normalmente disponíveis através de editais públicos. Empresas e empreendedores se inscrevem a fim de concorrer ao incentivo e benefícios de um determinado programa.
Como se trata de participação de editais, cada iniciativa tem uma série de requisitos e tipos de financiamento distintos, podendo ser reembolsável ou não.
Há diversos exemplos para negócios de impacto, alguns segmentados como em negócios inovadores para questões de gênero ou de meio ambiente, por exemplo.
Uma dessas iniciativas é o Startup Brasil, que tem por objetivo estimular projetos que desenvolvam softwares, hardwares e serviços de tecnologias da informação. O edital do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações é julgado por um comitê do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, e oferece milhões de reais a cerca de 50 propostas.
Empréstimos socioambientais
É o financiamento aberto pelo terceiro setor para negócios de impacto social e ambiental.
Um exemplo é o Instituto Ventura que destina capital a empresas e organizações sociais com impacto ambiental.
Também já existem linhas de crédito com este mesmo propósito sendo oferecidas por bancos comerciais, além de bancos de desenvolvimento.
O BNDES oferece condições e programas de financiamento específicos a projetos de caráter social e ambiental.
Por onde começar em investimento de impacto
Todo negócio precisa de dinheiro em alguma etapa da vida, para começar, para estruturar, escalar, consolidar.
Veja alguns pontos para refletir antes de captar investimento:
- Esteja atento ou atenta ao grau de risco.
Capital de alto risco = capital de risco (seed e pre-seed),
Capital de baixo risco = capital tradicional (banco e subvenção); - Planeje exatamente a necessidade de capital para definir o ticket para captação. Captar menos dinheiro pode deixar seu negócio vulnerável pela porcentagem do negócio que precisa ser dividido e captar mais do que necessário infla a operação e acelera a necessidade de retorno/novas captações;
- Procure por conhecimento especializado (especialização setorial e rede);
- Cuide com o grau de apoio na operação (proximidade do investidor e influência no negócio). Afinal, nada melhor que um investidor que tenha conhecimento e já tenha vivido o que você está vivendo, não?
E aí, já sabe qual alternativa se encaixa melhor no seu perfil?