Originalmente, o conceito de testes de hipótese foi elaborado no contexto de desenvolvimento do chamado “método científico”, como parte fundamental dos experimentos para que uma ideia pudesse ser confirmada ou refutada e, assim, atestar a sua validade científica.
Uma hipótese nada mais é do que uma afirmação que associa um efeito a uma causa. A lei da gravidade, elaborada e testada por Isaac Newton, por exemplo, provou a hipótese de que existe uma força magnética no centro da terra que atrai os corpos para o seu centro, provocando a queda de objetos.
Passaram-se muitos séculos desde então, e os princípios do método científico se provaram fundamentais para o desenvolvimento de novos conhecimentos, técnicas e tecnologias.
Para além da pesquisa científica, o teste de hipótese e outros princípios extrapolaram o campo das ciências acadêmicas e vêm sendo utilizados como ferramenta de estruturação em negócios inovadores e organizações de todos os portes e segmentos.
Neste conteúdo, apresentamos um panorama da importância dos testes de hipótese para negócios inovadores. Continue a leitura e compreenda de que forma você pode usar os testes de hipótese como norteadores de ações no desenvolvimento de uma ideia inovadora!
Testes de hipótese como suporte para estruturação de um negócio
Imagine que você tem uma ideia inovadora e quer começar o seu caminho empreendedor, mas ainda não sabe como validar o potencial do negócio. Nessas situações, o teste de hipótese ajuda a reduzir as incertezas inerentes a um contexto de inovação e a direcionar a estruturação de uma empresa.
Para entender na prática o que são hipóteses, vamos a alguns exemplos de afirmações relacionadas a ideias de negócios que podem ser testadas para validar uma proposta:
- Produtores rurais podem economizar recursos diminuindo o uso de agrotóxicos.
- O manejo do estoque é um dos principais problemas do comércio varejista.
- É possível aumentar a taxa de retenção de clientes com uma comunicação personalizada via canais A, B e C.
- Consumidores estão dispostos a pagar um valor até X% maior em alimentos orgânicos da agricultura familiar.
- Clientes pagam até X% mais em produtos de empresas que apoiam causas sociais.
Hipóteses como as apresentadas acima podem ser testadas, desde que respeitem quatro elementos principais da aplicação do método científico:
- Caracterização de um evento: com aplicação de quantificações, observações, métricas e dados que descrevem o fenômeno.
- Formulação de hipóteses: afirmações falseáveis que propõem relações de causa e efeito para explicar o fenômeno.
- Previsão de efeitos: deduções lógicas que seguem as hipóteses elaboradas e as consequências esperadas.
- Desenho de experimentos: descrição dos elementos acima citados, com fins de coletar novas caracterizações e validar ou refutar as hipóteses levantadas.
Aplicando o teste das hipóteses segundo os quatro princípios destacados, é possível verificar, com base em evidências, se há consistência naquilo que está proposto.
Dessa maneira, a pessoa empreendedora pode se preparar de forma adequada para apresentar a validação da ideia de negócio a possíveis investidores e, ao mesmo tempo, minimizar a possibilidade de ocorrência de problemas que podem inviabilizar o negócio ainda na sua fase de estruturação.
Estrutura do teste de hipótese
Assim como nos estudos científicos, todo negócio inovador se inicia em um contexto de incertezas.
Da mesma forma, a melhor maneira de superar as incertezas e garantir a validade das ideias é testando hipóteses que sirvam de evidência para aquilo que se pretende defender.
Então, agora que já discutimos a importância do teste de hipótese e os princípios que devem ser seguidos para validação, vamos apresentar a estrutura essencial dos testes. Confira a seguir!
Hipótese
As hipóteses precisam ser formuladas como frases afirmativas e falseáveis. Isto é, frases passíveis de testes, para que seja possível confirmá-las ou refutá-las. Assim, é possível validar, ou não, a ideia e compreender melhor a sua viabilidade.
Lembrando ainda que, em muitos casos, será necessário elaborar e testar várias hipóteses para garantir a conformidade da estratégia de negócio em todos os seus pontos fundamentais. Não apenas naqueles que mais interessam à pessoa que formulou a ideia inicial.
Teste
A fase de teste é, normalmente, a que provoca maiores dificuldades em um negócio durante a fase de estruturação.
Basicamente, os testes são a forma possível para verificar se a hipótese elaborada se confirma ou não. Mas, para que os testes funcionem, as hipóteses, além de realistas e falseáveis, devem ser bem formuladas.
Do contrário, o teste de hipótese pode ocultar problemas negligenciados na formulação, que, mais tarde, trarão problemas para a viabilização do negócio.
Métrica
Um teste de hipótese será mais eficiente para os objetivos de validação e viabilização quanto mais quantificáveis forem as variáveis analisadas.
Por isso, vale priorizar os testes que facilitem o isolamento das variáveis em questão. Assim, elas serão mais facilmente medidas.
Isso não quer dizer que testes de caráter qualitativo devam ser desprezados. Nesse caso, eles devem ser tratados de forma que seja possível traduzir os resultados em métricas quantificáveis. Declarações e questionários são exemplos de métodos para realização de testes que podem ser tanto qualitativos como quantitativos.
Meta
A meta, por fim, deve ser definida com base no valor ideal que uma métrica deve alcançar para que a hipótese possa ser considerada válida.
Nesse ponto, vale ressaltar que, assim como na ciência, nem sempre os resultados esperados serão obtidos, mas isso não deve ser motivo para desistência.
Pelo contrário, os reveses são fundamentais para ajustar a ideia de negócio, fazendo com que ela de fato atinja o seu potencial e realmente entregue o valor com que foi idealizada.
Para ilustrar com uma situação prática, vamos usar um exemplo com o nosso próprio negócio.
Suponhamos então que a Semente Negócios tem um novo produto: um curso com certificação para líderes em inovação.
Como hipótese, podemos determinar que “pessoas consultoras têm hoje a necessidade de buscar capacitações para lidar com processos de inovação”. E, como teste, poderíamos criar e disponibilizar, via landing page, um “Guia prático para líderes em inovação”, mediante troca de dados cadastrais.
Nesse caso, a métrica seria o número de pessoas que fizeram o download do guia em troca da disponibilização de seus dados como público do segmento “consultoras autônomas”.
A meta, então, deve corresponder à expectativa de público para o produto em análise, no caso, o curso com certificação. Logo, se a expectativa é de 100 pessoas consultoras autônomas dispostas a comprar o curso e o guia teve 120 downloads: meta alcançada com sucesso!
Passos para estruturar as hipóteses
Até aqui, tudo o que mencionamos sobre o teste de hipóteses pode parecer abstrato, especialmente se você tem uma ideia para um negócio inovador, mas ainda não sabe como estruturar as hipóteses que podem servir de validação.
Então, a seguir, explicamos os passos para chegar à estrutura que servirá de base para as hipóteses.
Definição de persona
Para elaborar um produto atrativo e condizente com as necessidades do público e do mercado, é preciso entender profundamente as carências, dores e necessidades do público-alvo.
Assim, o conceito de persona se faz pertinente. Trata-se da elaboração de um perfil detalhado do público ideal, que reúne informações pertinentes para obtenção de insights sobre produtos, serviços e soluções.
Determinação do método
O método utilizado nos testes não pode ser determinado com a intenção de obter o resultado confirmatório. É preciso sempre levar em consideração que o objetivo de realizar os testes de hipótese é justamente prevenir o avanço nas etapas do caminho empreendedor antes de confirmar a validade e viabilidade de uma ideia.
Portanto, sempre que necessário elaborar uma hipótese, o ideal é construí-la em frases que determinam e justificam o comportamento esperado do público-alvo (ou persona) e como ele poderá ser medido.
Consideração do MVP
O MVP (Minimum Viable Product), ou, em tradução livre, Mínimo Produto Viável, é um conceito ligado à cultura de empreendedorismo e inovação. Basicamente, faz referência ao desenvolvimento da versão mais simples possível de um produto para testes. Isso permite verificar sua viabilidade sem que seja necessário um grande investimento.
Assim, as hipóteses podem ser elaboradas considerando um estudo de MVP, que servirá de base para o aprimoramento do produto à medida que os testes evidenciam as necessidades do público-alvo.
Medição de resultados
Para que o teste de hipótese cumpra o seu propósito, será sempre imprescindível a medição de resultados que confirmam ou refutam suas afirmativas.
Análise e reestruturação
Com a realização dos testes, se faça algumas perguntas para o aprimoramento da ideia:
- Quais afirmativas se comprovaram?
- Quais se mostraram falsas?
- Quais novas hipóteses surgiram?
- Como essas novas hipóteses serão testadas?
Com isso, o processo pode ser reiniciado até chegar a uma ideia que se mostre altamente válida e viável para se tornar um negócio inovador!
Técnicas para testes de hipótese sobre mercado
Entre as muitas respostas que um teste de hipótese pode fornecer para um negócio inovador, os estudos sobre mercado são uma presença quase obrigatória. Logo, é natural que várias técnicas de testes voltados para a análise do mercado já tenham sido desenvolvidas.
A seguir, apresentamos os métodos mais utilizados em startups, empresas de tecnologia e em outros empreendimentos inovadores. Confira e aproveite essas técnicas para começar a fazer os testes sobre o seu negócio!
Pesquisa exploratória
Uma das formas de saber o potencial de sucesso de um negócio é elegendo uma hipótese e testando-a em um conjunto de entrevistas de validação – método chamado de pesquisa exploratória.
Funciona da seguinte forma: a partir de uma amostra de pessoas que tenham perfil compatível com a persona previamente definida, realiza-se uma pesquisa baseada em entrevistas para verificar a validade da hipótese.
De maneira resumida, a pesquisa exploratória permite aprimorar o desenho das soluções propostas, mapear concorrentes e soluções alternativas, entender o que não está funcionando adequadamente na hipótese, identificar novas necessidades e prototipar segmentos do processo comercial.
As entrevistas também são muito úteis para trazer insights sobre o comportamento do público-alvo, seus hábitos, perspectivas, etc.
Teste de fumaça
Voltado para testar o mercado de um produto, colocando os clientes em situações reais, o objetivo do “Teste de fumaça” é analisar a reação do público ao encontrar um problema ou uma solução para uma necessidade já conhecida.
Trata-se de uma forma simples e de baixo custo para testar a relevância do problema ou a receptividade à solução proposta, sem a exigência de ter um produto pronto ou um protótipo.
Nesse caso, direcione o teste ao público-alvo a ser feito de forma direta. Isso pode ser feito enviando, por exemplo, uma apresentação do produto ou serviço e solicitando uma resposta sobre o interesse em adquiri-lo para constatar se existe uma demanda real.
Blefe da solução
O “Blefe da solução” funciona de forma muito similar ao teste de fumaça, com a diferença de que, nesse caso, deve-se fazer com que o público acredite que a solução para o problema em questão já existe, está disponível para venda e logo estará pronta para uso.
Assim, o teste consiste em realizar vendas ou solicitar cadastros para identificar a demanda de execução do serviço ou fabricação do produto.
Concierge
Os testes “Concierge” são uma forma de simular as funções de um produto ou serviço e oferecê-las aos clientes, mesmo que não estejam totalmente prontas. Assim, a empresa consegue validar hipóteses, coletar feedbacks e analisar o processo de forma global.
Desse modo, uma ideia pode ser colocada em prática para validação ainda com alguns processos realizados de forma manual. Isso exige um investimento inicial mais baixo. Todavia, a prática ajuda a identificar gargalos e restrições dos clientes ao produto ou serviço sem que uma mudança no planejamento ou na estruturação cause prejuízos e inviabilize a ideia de negócio.
Por fim, vale mencionar o chamado teste “Mágico de Oz”, que se diferencia dos testes Concierge por disponibilizar uma interface digital funcional para interação dos usuários, mesmo que, na prática, as funções continuem sendo executadas manualmente.
Caminho empreendedor: metodologia completa para estruturar um negócio inovador
Muitas pessoas que possuem ideias inovadoras estão em busca de oportunidades para empreender e criar um negócio, mas têm dificuldades na estruturação do processo, desde a elaboração de hipóteses para testes até a captação de investimentos. Por isso, a Semente Negócios se especializou na capacitação de pessoas que atuam como empreendedoras ou líderes de projetos inovadores em desenvolvimento.
Se você se encontra em uma situação parecida, baixe o ebook sobre o Caminho Empreendedor e entenda como esse método, criado com base na experiência da Semente e em diversos conceitos de empreendedorismo e inovação, já ajudou milhares de pessoas a construir e escalar negócios inovadores!