Em processos de inovação, seja qual for o veículo de inovação adotado, é difícil de se analisar dezenas ou centenas de ideias de projetos e conexões com startups. Isso é algo que demanda tempo e, muito mais do que isso, exige algum direcionamento.
Como saber quais projetos e startups podem entrar no nosso pipeline de inovação, e quais nós não nos interessamos? É com o intuito de selecionarmos melhor aquilo que vamos investir que existe a tese de inovação.
Os fundos de investimento que investem em startups normalmente constroem uma “tese de investimento”, na qual delimitam os mercados em que vão investir, maturidade dos negócios, modelo de negócio, tamanho do aporte, configuração do time, tecnologia, entre muitos outros pontos, a fim de focar esforços na prospecção de negócios que se enquadrem nessa tese.
Ela é montada tomando como base as competências dos sócios e corpo executivo do fundo, bem como em tendências e apostas em determinados mercados e tecnologias. Essa tese pode ser mais abrangente, não limitando tanto o escopo de atuação do fundo, ou mais específica, restringindo a atuação apenas em um mercado e/ou um tipo de tecnologia (ex.: varejo SaaS B2B).
A tese de inovação de uma corporação funciona de forma muito semelhante, e sem dúvidas deve ser explicitada para a empresa inteira ou, no mínimo, para quem está trabalhando mais diretamente com inovação.
É esta tese que permite com que as corporações possam alinhar sua estratégia de inovação com a estratégia do restante da empresa, pois a falta desse norte pode deixar o processo de inovação solto e sem um direcionamento específico.
Quais os problemas que isso pode gerar?
Primeiramente, como já explicitado, uma desconexão do processo de inovação com a estratégia organizacional. Outro problema é a demora para decidir o go/no go de determinadas iniciativas, pois todas elas acabam tendo que passar por algum comitê de inovação para avaliar. Além disso, a própria avaliação pelo comitê passa a ser altamente subjetiva, pois não foram delimitados critérios claro de investimento em novas iniciativas com o restante dos executivos da organização.
Resumindo: gera desalinhamento estratégico, lentidão no processo decisório e processo decisório subjetivo. Em outras palavras, não é possível uma corporação manter o foco se está sendo puxada para todos os lados. Bem como atos randômicos de inovação normalmente não trazem bons retornos. Acho que isso já é argumento suficiente para se construir uma tese de inovação antes de sair investindo tempo e recursos em projetos, não é?
Como montar uma tese de inovação para minha empresa?
Antes de sugerir uma metodologia para isso, algo que as lideranças da corporação devem fazer em conjunto para construir uma tese de inovação é criar sua própria visão sobre para onde o mundo (e seu mercado de atuação) está indo, e como a empresa usará a inovação para responder a essas mudanças.
Tendo isso em mente, 3 passos fundamentais devem ser dados para que a tese de inovação possa ser criada:
- Análise do Portfólio: para direcionarmos o futuro, devemos entender onde estamos. A análise dos produtos e serviços atuais é importante para se traçar um objetivo em termos de portfólio de inovação, ou seja, qual o percentual de recursos vamos investir em inovação incremental, adjacentes e transformacionais? Quais produtos serão desativados? Quais produtos estão dentro do nosso core business e em quais devemos investir para conseguirmos continuar competitivos no futuro?
- Análise do ambiente: tendo uma visão interna sobre a situação do portfólio, é fundamental que seja feita uma análise externa, podendo ser utilizadas metodologias tradicionais como a PESTAL, avaliando as tendências em relação a aspectos políticos, econômicos, sociais e tecnológicos. Além disso, deve-se entender quais são as principais tendências emergindo nos mercados que atuamos, ou que pretendemos atuar, bem como quais startups estão surgindo nesses segmentos.
- Construção da tese de inovação: finalmente, estaremos preparados para construir nossa tese de inovação, a qual não passa de uma hipótese a ser validada, melhorada e pivotada ao longo do tempo. Ou seja, o que se desenha em relação à tese de inovação deve ser frequentemente revisada por causa das mudanças no mercado, e dos aprendizados e amadurecimento que a corporação vai tendo ao longo da sua trajetória interagindo com novos projetos de inovação.
Deixando isso mais simples, a empresa deve responder pelo menos essas perguntas:
- Como será o mundo daqui a 5-10 anos? E quais startups se darão bem nesse mundo?
- Em quais mercados a empresa quer estar daqui 5-10 anos?
- Quais ideias a corporação se sente mais apta a investir?
- Quais ideias a corporação não quer investir?
- Qual será o percentual de recursos investidos no balanceamento do portfólio?
Por fim, é fundamental ressaltar que trabalhar com essas metodologias e com a construção de uma tese de inovação não quer dizer que ideias “off-script” não podem ser aceitas. Elas podem sim ser aceitas, mas deve-se fazer isso de forma consciente, sabendo-se que é uma aposta fora do foco, uma exceção, e que deve ser bem gerenciada.
>>> Entenda sobre o Pipeline da Inovação aqui