Em tempos de cenários ainda mais incertos, é necessário estarmos muito atentos aos erros que não podem ser cometidos ao abrir uma startup.
Aqui na Semente, já tivemos a oportunidade de potencializar o desenvolvimento de mais de 3 mil negócios, dos mais diversos tipos e em diferentes estágios.
Isso sem contar os inúmeros negócios que interagem com a gente no dia a dia, seja enviando um e-mail para comentar algum artigo lido no nosso blog, tirando dúvidas sobre as inscrições nos nossos programas ou nos abordando em eventos que participamos.
Essa experiência nos permitiu identificar certos padrões nesses negócios — padrões comprovadamente generalizáveis e não padrões super ajustados — que traduzimos em uma metodologia de desenvolvimento de negócios inovadores, o Caminho Empreendedor. É possível separar esses padrões em boas práticas e em contra-recomendações.
O primeiro dá conta de recomendações explícitas de ações que, via de regra, reduzem o risco associado à inovação. Já o segundo, trata-se de ações que, implicitamente, recomendamos que não aconteçam, seja por aumentarem os riscos do negócio ou por tomarem tempo precioso do empreendedor e não trazerem resultados efetivos.
Nesse artigo, vamos explorar as duas contra-recomendações mais ignoradas pelos empreendedores que desejam abrir uma startup. Veja:
O fato de o que não fazer passar despercebido pelos empreendedores fica evidente na frequência com que ouvimos duas preocupações infundadas, vindas de empreendedores de primeira viagem. A primeira segue a linha de “quero tirar minha ideia do papel, preciso de investidor para isso, o que fazer?”. Na sequência, a segunda segue variações de “como faço pra contar a minha ideia para possíveis investidores e evitar que eles copiem?” Vamos dissecar cada uma delas.
Estou tirando minha ideia do papel para abrir uma startup, preciso de investidores, o que fazer?
Primeiramente é importante ressaltar que o objetivo fim de um negócio é gerar um resultado positivo: seja mensurado exclusivamente em lucro, seja acompanhado de impacto social. Isso pode parecer óbvio quando posto dessa maneira, mas muitas vezes é o que está por trás dessa primeira preocupação.
Muitos empreendedores que desejam abrir uma startup vêem a captação de investimento como um indicador de sucesso do negócio, ou até mesmo como o principal objetivo de se abrir uma startup, e não é. Ou pelo menos não deveria ser. O investimento não é um fim, mas um dos meios possíveis para atingir a verdadeira missão do negócio.
O segundo pensamento que leva quem quer abrir uma startup a essa conclusão equivocada é superestimar a necessidade de investimento externo no desenvolvimento do negócio. Poucos negócios inovadores são intensivos em capital nas fases iniciais de validação — as exceções aqui são hardwares extremamente caros, softwares que demandem muito poder de processamento ou negócios cujo principal ativo é o capital, como um banco, uma seguradora ou um fundo.
Atrelado a isso está o pensamento de que “tirar a ideia do papel” significa entrar no prédio, sentar numa mesa de trabalho, só sair de lá quando o protótipo da solução estiver pronto e toda a estratégia desenhada. O processo de desenvolvimento de um negócio inovador não começa pela solução, mas pelo problema, que precisa ser testado e validado a partir de evidências coletadas em interações com o mercado.
Após isso, a proposta de valor do negócio precisa se provar capaz de engajar um público entusiasta da futura solução, validando que o que se propõe a desenvolver atrai esses futuros clientes. Num terceiro estágio, ainda anteriormente à produção de um protótipo totalmente funcional, existem vários tipos de Mínimos Produtos Viáveis, dos mais simples aos mais complexos, garantindo que o que está sendo desenvolvido realmente resolve o problema anteriormente validado.
Todos esses processos para abrir uma startup podem e devem ser executados da maneira mais enxuta possível, reduzindo os investimentos necessários e, principalmente, mitigando o risco caso algo no meio do caminho não saia como o esperado. Isso mostra que não é necessário, nem mesmo recomendado, que se invista milhares de reais em pequenas grandes entregas sustentadas por grandes planos estratégicos.
Pelo contrário, desenvolvimento de negócios inovadores é sobre gestão de riscos. Quanto mais enxuto for esse processo, mais testes podem ser realizados, aumentando as chances do negócio encontrar um modelo sustentável.
Da mesma forma, é extremamente difícil captar um investimento no nível de ideia devido ao risco ser muito grande para o investidor que está entrando no negócio, visto que a startup ainda não passou por nenhuma validação de mercado. Quanto mais validado o seu negócio estiver, menor será o risco para o investidor, portanto, mais atrativa será a proposta de investimento.
Para pôr fim a essa obsessão por investimentos em empreendedores, vale tocar em uma característica que poucas vezes é pontuada quando se fala em investimentos em startups. A entrada da startup no mercado de capital de risco (como um produto) joga o negócio em uma espiral em direção a um destino muito específico. Nessa caminho, os únicos resultados possíveis são uma empresa com crescimento exponencial por anos seguidos, atingindo valores de mercado astronômicos, ou mais uma startup que quebrou no caminho. Talvez essa visão seja um tanto quanto alarmista e caberia um artigo inteiro nessa discussão, mas o fato é que, ao entrar nesse jogo, ser apenas uma empresa sustentável, rentável e saudável não é mais suficiente.
Como faço para falar da minha ideia sem que ela seja copiada?
Esta é uma dúvida muito comum entre quem quer abrir uma startup. A resposta rápida, mas absolutamente não recomendada é: faça um NDA (Non-Disclosure Agreement, ou Acordo de Não Divulgação) com cada possível investidor, cliente, parceiro, mentor ou amigo que tenha interesse em ouvir a sua ideia.
Isso, obviamente, além de ser contraproducente é ineficaz como instrumento legal em fases tão inciais de ideação. Também afasta completamente reais interessados em auxiliar o empreendedor e seu negócio.
A verdade é que simplesmente não existe ferramenta capaz de evitar que a sua ideia seja copiada, nem mesmo nunca externalizar ela. Nós vamos mostrar o porquê disso, e como não se desesperar com essa vulnerabilidade.
Esse questionamento é interessante principalmente porque contrasta com um outro bordão de empreendedores inexperientes que planejam abrir uma startup: “eu pensei na [INSIRA AQUI UMA GRANDE COMPANHIA DE TECNOLOGIA] antes de ela existir!”. Como é evidente que os fundadores da Netflix não estavam ouvindo escondidos naquela única vez que esse empreendedor desconfiado confidenciou a um amigo a sua ideia, e tomamos essa declaração do empreendedor como verdadeira, vale a pena entendermos como isso pode ser tão comum. Possíveis causas para isso:
- Ancestralidade: a ideia pode, simplesmente, ser mais antiga que as duas epifanias, como no caso de tecnologias imaginadas pela ficção científica;
- Inspirações análogas: ambos podem ter tido as mesmas referências, fazendo com que a conclusão naquela ideia inovadora fosse quase que automática;
- Acaso: talvez o que junta essas duas pessoas inventivas seja nada mais que pura sorte, afinal;
- Falsas memórias: sempre bom lembrar que é possível que a ideia original imaginada pelo empreendedor nem seja tão parecida assim com a Netflix.
A última certeza que deve ser questionada é se, no momento da concepção, a ideia imaginada é realmente excepcional. Ou ao menos minimamente boa. A chance de a ideia representar uma realidade completamente desconectada do mercado é real e bastante comum no início, já que muitas vezes ela é fruto da experiência exclusiva de uma pessoa, e essa experiência é insuficiente para criar uma representação realista de um mercado específico.
Ao abrir uma startup, para que ideias se tornem bons negócios sustentáveis, é inevitável que passem por um processo árduo e incessante de aperfeiçoamento, guiado totalmente pelo feedback do mercado. Basicamente, execução supera ideação por muito na responsabilidade pelo sucesso dessas ideias como modelos de negócio.
Evite preocupações infundadas e foque no que realmente importa
Em resumo, a principal preocupação de um empreendedor deve ser gerenciar, evitar e reduzir os riscos associados ao negócio inovador que está criando. As respostas para as inúmeras perguntas e incertezas que rodeiam o modelo de negócio estão em nenhum outro lugar além do mercado.
Ao abrir uma startup, foque em validar verdadeiramente as hipóteses daquele modelo de negócios. Também sempre tenha em mente que o motivo de construí-lo é aumentar cada vez mais o resultado obtido.
A Semente acompanha negócios inovadores nesse processo e guia o desenvolvimento deles com metodologias pensadas e desenhadas especialmente para as realidades que esses negócios vivem. O Caminho Empreendedor traduz os principais métodos utilizados no mundo todo para o contexto dos empreendedores brasileiros.
Entre em contato conosco conversar com um de nossos consultores de negócio. Também fique à vontade para compartilhar a sua história ou a sua dúvida diretamente por ali.