Muito famoso no meio das startups, o MVP de impacto se consolidou como uma das principais ferramentas para testar o encaixe de soluções inovadoras no mercado.
Sozinho ou aliado a outras metodologias ágeis, realizar um ou mais MVPs – da sigla em inglês Minimum Viable Product (Produto Minimamente Viável, em tradução livre), se tornou uma etapa obrigatória antes do desenvolvimento de qualquer novo produto ou serviço.
Pergunte para qualquer empreendedora ou empreendedor da área tech sobre os principais aprendizados na história do seu negócio e provavelmente a resposta envolverá o desenvolvimento e aplicação de um MVP.
Afinal, o que é um MVP de impacto?
O MVP é a maneira mais fácil de se testar algo, seja um produto ou um serviço de impacto social ou ambiental. A estratégia utiliza a menor quantidade de recursos possíveis, antes mesmo de colocar a solução de forma efetiva no mercado.
No entanto, quando se trata do universo dos negócios de impacto, à primeira vista as coisas podem ser um pouco mais complicadas do que parecem.
Por isso, é importante entender que alguns fatores podem dificultar a construção e aplicação de um MVP para negócios de impacto. Alguns exemplos são o perfil, a trajetória dos empreendedores de impacto, a linguagem pouco acessível utilizada no meio da tecnologia e a falta de exemplos consolidados e divulgados na área.
Isso porque, diferentemente do ramo tech, em que as equipes normalmente contam com pelo menos uma pessoa com experiência startupeira, nos negócios de impacto o time de fundadoras e/ou fundadores tende a ser interdisciplinar e de primeira viagem.
Além disso, muitas vezes, a equipe é composta apenas por uma ou duas pessoas com vasta experiência e conhecimento aprofundado da causa e território, mas sem esse contato prévio com tais metodologias.
A mentalidade de construir e testar hipóteses é uma prática universal, e que não precisa estar aliada a nomes estrangeiros para ser implementada.
O que precisa ser entendido é que não é necessário ter o produto perfeito, com todas as suas arestas aparadas e pronto para ser lançado. O ideal é que a sua solução seja apresentada ao usuário o quanto antes. Assim, é possível validá-la e ajustá-la às necessidades dos clientes.
Como a nossa experiência de empreendedorismo periférico ressalta, aproximar os conceitos de tecnologia e inovação da realidade das regiões periféricas é uma etapa fundamental para a construção de um ecossistema de impacto real!
Fazendo o MVP de impacto acontecer
Para saber se você está no caminho certo de implementar seu MVP, pergunte-se:
- Qual é o mínimo que eu preciso fazer para minha solução acontecer?
- Quais são as funcionalidades da minha solução que eu preciso (e consigo) testar mais rápido?
- Como eu posso sair para a rua agora e vender o meu produto?
As respostas para estas perguntas não são fáceis, mas são elas que te ajudarão a testar sua solução economizando tempo e dinheiro!
Enquanto há uma enxurrada de exemplos de MVPs de tecnologia e software, no que tange os negócios de impacto eles são um pouco mais escassos e difíceis de encaixar nas categorias tradicionais de MVP.
Os 3 tipos mais famosos de MVP
Alfaiate
Modelo de teste em que você realiza uma ou duas vendas e “gruda” nos primeiros clientes, entregando sua solução como um prestador de serviço extremamente personalizado. Você se torna muito próximo do seu usuário e utiliza essa experiência para atender – e entender! – tudo que é importante sobre a persona. Estes aprendizados vão ser utilizados na hora de montar uma versão escalável do seu produto ou serviço.
Mágico de Oz
Neste modelo o seu cliente não sabe que você está realizando um MVP. A experiência dele de usuário é muito parecida com a experiência que ele teria se estivesse adquirindo a versão final, mas com a diferença de que “por trás dos panos” é você quem está fazendo tudo acontecer.
Protótipo
É uma versão beta do seu produto ou serviço. Ele reúne a maior parte das funcionalidades necessárias para que a solução rode, mas o acabamento, o modo de produção, e às vezes até mesmo o design ainda não está definido. Na verdade, nada está 100% definido. A ideia do protótipo é que ele seja realizado em série, com melhorias constantes sendo implementadas a partir do contato com os usuários.
Se contarmos somente àqueles existentes na literatura em português que são acessíveis aos empreendedores de impacto brasileiro, este número é ainda menor. Por isso nós trouxemos para você 5 exemplos de MVPs de impacto inspiradores.
Conheça 5 exemplos de MVPs de impacto
MeSalva!
Uma das maiores plataformas on-line de ensino à distância, a Me Salva! oferece uma série de cursos e materiais de estudo para alunos do ensino médio que estão se preparando para provas de vestibular e ENEM no Brasil inteiro. Os alunos também encontram módulos especializados para cursos de engenharia, medicina e negócios.
O que pouca gente sabe é que o MeSalva! surgiu em 2012, com o Miguel, professor de matemática e um dos sócio-fundadores da empresa, gravando vídeos em casa para complementar as aulas particulares e as lançando no YouTube.
Ou seja, mesmo sem nomear essa atividade de MVP, o que Miguel estava fazendo era exatamente o que se ensinam nos cursos de empreendedorismo: utilizando os recursos disponíveis para entregar valor da forma mais rápida e barata para seu público-alvo!
O “teste” do Miguel bombou tanto que a própria demanda e contato com o público foi o levando a estruturar o seu modelo de negócio.
Ou seja, mesmo tendo hoje um site automatizado, com metodologia estruturada, diversos professores parceiros e mais de 200 milhões de vídeo-aulas assistidas, o ponto de partida foi justamente a entrega mínima de valor provando o encaixe do problema com a solução.
Acompanhamos a estruturação do Me Salva! desde o início, quando o empreendedor participou do programa Start-Ed da Fundação Lemann que a Semente executava. E por isso podemos mencionar que a MeSalva! está constantemente inovando e testando a implementação de novos produtos.
O que nos lembra que o MVP de impacto não é uma etapa, mas sim um estado de espírito.
HelpBell
Focado no encontro entre saúde e tecnologia, a HelpBell trabalha atualmente com dispositivos inteligentes e conectados que utilizam tecnologia IoT (internet das coisas) para monitorar em tempo real a adesão ao tratamento fármaco dos pacientes.
Quando o negócio começou, há mais de cinco anos, o sócio-fundador Roger tinha na cabeça o propósito de facilitar o atendimento à pessoas idosas que sofriam acidentes em casa.
A ideia era desenvolver um “sino” que a pessoa pudesse acionar de forma fácil ao sofrer um acidente durante o banho, por exemplo.
O Roger conta que desenhou o primeiro protótipo inspirado no design dos produtos da Apple, de modo a oferecer um produto que parecesse elegante e não comprometesse a estética dos ambientes de seus usuários.
Ao rodar o MVP com seus primeiros clientes, o feedback foi instantâneo: não adianta você ter um alarma pequeno, bonito e branco que o usuário não consegue enxergar enquanto toma banho!
É necessário remodelar o produto para que ele seja grande e de uma cor chamativa, facilitando o seu alcance na hora da emergência.
A história do Roger nos lembra de como é importante não sermos apaixonados pela nossa solução, mas sim pelo problema que queremos resolver!
Sem falar na quantidade de recursos que foram economizados com o MVP. Imagina só se ele tivesse feito um primeiro lote com centenas de “sinos” e todos tivessem que ir para o lixo?!
DonaMaid
A DonaMaid é um marketplace que oferece faxina por hora, com profissional verificado e que leva seus próprios produtos de limpeza, a DonaMaid passou pelo programa StartupRS Digital programa de pré-aceleração do SebraeRS executado pela Semente.
A trajetória da DonaMaid é de constantes testes e MVPs: para cada mudança na plataforma, para cada ideia nova, os empreendedores lançavam uma versão enxuta e testavam a reação do público.
Assim, após a realização do teste fumaça para construir uma base de entusiastas, um dos primeiros MVPs da DonaMaid foi um tradicional Mágico de Oz, com os clientes contratando a DonaMaid via o canal do messenger.
O usuário tinha a experiência de estar conversando com um chatbot, quando na verdade do outro lado da tela estava o próprio Luiz, um dos sócio-fundadores da empresa, enviando por “ctrl+c e ctrl+v” uma série de perguntas pré-programadas de acordo com um roteiro que ia se modificando, conforme eles mesmo aprendiam com a experiência do usuário.
MVP feito, interação aprimorada e, depois de algumas semanas com a equipe passando 24 horas por dia, sete dias por semana atrás respondendo os usuários no messenger, o teste foi validado e a DonaMaid decidiu investir na criação de um bot real via chatfuel.
CareMessage
Desenhada como um sistema de gestão de saúde para populações carentes, a CareMessage iniciou suas atividades em 2011, quando identificou que o sistema de saúde público dos Estados Unidos performava mal porque não conseguia engajar os seus pacientes nos atendimentos.
Muitos usuários não retornavam para as visitas agendadas, não seguiam os cuidados indicados pelos médicos e acabavam não recebendo o acompanhamento necessário. Assim, pessoas que sofriam com doenças crônicas, como diabetes, eram um dos principais públicos-alvo.
A solução da CareMessage consistia em justamente utilizar as mensagens de texto via celular para conscientizar e acompanhar estes pacientes à distância.
No entanto, a incerteza e os riscos envolvidos eram altos: será que as pessoas com diabetes escutariam os conselhos de nutrição recebidos por uma mensagem de texto?
Para comprovar a sua hipótese, a co-fundadora da CareMessage começou rodando um MVP com amigos e familiares próximos que se encaixavam no seu público-alvo, ampliando em seguida o atendimento para pacientes de uma clínica da vizinhança.
Na ocasião, a própria empreendedora enviava as mensagens de texto, conversando com as pacientes ao longo das diversas etapas do tratamento, similar ao modelo de MVP Alfaiate.
Desta forma, foi possível gerar aprendizados importantes para a automatização do sistema, compreendendo que o maior diferencial da proposta de valor do negócio era a atenção que as pacientes recebiam e a sensação de que alguém se importava com elas.
Além disso, foi também possível refinar o conteúdo e o momento de envio de cada mensagem para a automatização futura.
Carteiro Amigo
A ideia do Carteiro Amigo surgiu em 2000, quando o empreendedor Sila, morador da Rocinha, no Rio de Janeiro, e desempregado há quase seis meses teve uma ideia de que poderia abrir seu próprio negócio e ao mesmo tempo resolver um problema enfrentado por todos os seus vizinhos: a falta de acesso aos serviços de correspondência e entrega no bairro.
Para validar sua ideia e conquistar os primeiros clientes, Sila estabeleceu como meta conseguir 200 assinaturas do seu serviço em um mês – uma meta audaciosa, especialmente se você considerar que até então nada parecido havia sido ofertado naquela região.
Para conseguir estes primeiros clientes, o empreendedor priorizou os benefícios e funcionalidades mais importantes do seu modelo de negócio: confiabilidade, recorrência e proximidade.
Mandou fazer um uniforme básico com a imagem da marca, providenciou telefone e endereço para contato e foi então batendo de porta em porta e oferecendo a assinatura do serviço do Carteiro Amigo para uma versão “teste”, gratuita pelos primeiros 30 dias.
O resultado? 200 novos clientes promotores da marca!
Estes exemplos demonstram como a lógica de teste e validação de hipóteses por trás do MVP de impacto auxiliaram no desenvolvimento de algumas iniciativas.
Lembrando que o MVP, além de ser essencial para melhorar o encaixe entre o produto e o mercado, também é um exercício super interessante para gerar insights sobre o modelo de negócios!
E você? Qual é a entrega mínima de valor da sua ideia?