No último post falei sobre a tendência do venture building, uma das quatro tendências que na minha visão estão mudando o mercado de investimento em startups de estágio inicial.
Retomando o assunto, nesse post vou falar sobre a tendência de as aceleradoras passarem a ser um veículo de investimento de investidores anjo.
No surgimento da WOW, aceleradora da qual sou co-fundador e apoiei os primeiros ciclos de aceleração, uma premissa importante era a de montar um projeto que fosse democrático, que captasse dinheiro do máximo de investidores anjo, de modo a ter uma grande rede de pessoas interessadas no sucesso das startups investidas.
A ideia foi montar uma proposta imperdível: uma oferta de investimento abaixo de R$100 mil (um valor muito acessível para quem está interessado em montar um portfolio de startups) para ter participação em 20 startups e ainda fazer parte de uma rede. Além do olhar financeiro do investimento, os anjos da WOW também valorizam muito os momentos de troca e aprendizado.
No primeiro ciclo de captação, foram captados recursos de mais de 70 investidores, sendo boa parte deles empresários da área de tecnologia do sul e sudeste do Brasil. Também estavam no grupo alguns consultores, profissionais liberais e acadêmicos interessados em inovação. O conceito de montar uma espécie de fundo de anjos foi algo inédito no Brasil, em especial no início de 2013 quando o fundo foi formado. Além disso, a captação garantiu a sobrevivência da WOW durante os 2 primeiros anos enquanto víamos várias aceleradoras com modelos mais frágeis fechando.
O mais especial desse processo foi incluir dezenas de profissionais capacitados no mercado de capital de risco. Pelo menos 80% dos investidores nunca haviam investido em startups. Depois desse primeiro investimento, muitos investidores também começaram a fazer seus investimentos individualmente. Um grande ganho para o ecossistema.
Recentemente a WOW captou o seu segundo fundo de investidores anjos, agora compondo um grupo de mais de 100 investidores envolvidos. Ou seja, o modelo foi validado.
Agora, esse modelo vem sendo adotado pela maioria das aceleradoras sobreviventes.
Algo que comprova essa tendência é olhar o caso da Aceleratech, uma das principais aceleradoras brasileiras, que recentemente reformulou o seu modelo e marca lançando a ACE, financiada por um grupo de investidores anjos. Além disso, o novo modelo da ACE comprova a força das outras tendências que citei no meu post de março: trabalho com corporate ventures (em breve um post só para ela) e um modelo mais flexível de investimento.
Outra tendência forte do investimento em inovação que pode e vai mudar esse jogo é o equity crowdfunding, que permite a democratização do investimento anjo, a partir de R$5mil. Vamos esperar para ver.
Bruno Peroni foi sócio-fundador da Semente.