Na Semente estamos seguidamente nos perguntando sobre qual pode ser o papel do Estado em discutir inovação e empreendedorismo, olhando bastante para o seu potencial de investimento principalmente no longo prazo. Você também já pensou sobre isso? No mês de julho gravamos um Webinar com dois convidados que fazem parte dessa transformação dentro do Estado e contaram um pouco das suas experiências.
Além disso, há também formas que podemos pensar como articular transformações dentro da própria máquina estatal que viabilizem que iniciativas que fomentem ou sirvam de suporte para a inovação ou até mesmo que crie um ambiente atrativo para práticas empreendedoras, como por exemplo o intraempreendedorismo.
Intraempreendedorismo e inovação no setor público
Segundo o conceito mais citado significa empreendedor interno, ou seja empreendedorismo dentro dos limites de uma organização já estabelecida. Sendo hoje um conceito mais difundido dentro das organizações, o intraempreendedorismo é um sistema para acelerar as inovações dentro de grandes empresas, através do uso melhor dos seus talentos empreendedores.
Aqui podemos fazer uma ligação com o estado, contudo há uma limitação importante na transferência de conceitos do setor privado ao público, uma vez que as motivações do setor privado para inovar (aumento da competitividade e maximização dos lucros) não são as mesmas do setor público. Nesse sentido, busca-se maior efetividade (capacidade de fazer uma coisa da melhor maneira possível) como também a legitimidade do setor público para enfrentar problemas complexos.
É possível definir o intraempreendedorismo como a capacidade de um gestor ou funcionário inovar e proporcionar benefícios para uma organização. Essa ação viável somente quando os colaboradores são qualificados e estão motivados para perceberem oportunidades de promoverem mudanças que vão impactar de maneira positiva nos serviços.
Além disso, é fundamental ter recursos humanos, materiais e financeiros para pôr em prática as atividades que irão modificar os procedimentos de trabalho e o atendimento prestado à população. No setor público, essa forma de empreendedorismo ainda é caracterizada pela vontade de o servidor interagir com muitos segmentos do público-alvo. A medida possibilita entender melhor as demandas sociais e encontrar soluções para resolvê-las.
A mudança de cultura requer bastante paciência e força de vontade em qualquer organização. Porque aperfeiçoar a comunicação, instituir uma gestão focada em resultados, incentivar a criação de um ambiente favorável à inovação e priorizar a melhoria contínua são ações que devem ser bem absorvidas pelos servidores públicos. Mas a melhora dos resultados e uma nova atitude dos funcionários são motivos que justificam o esforço.
No entanto, uma questão central quando se discute inovação no setor público é o próprio conceito em si, segundo o Ministério da Economia, identificou-se que 76% dos artigos sobre o tema sequer tinham uma definição básica da terminologia, os outros 24% apresentaram um conceito impreciso e vago sobre inovação. Além disso, a falta de debate faz com que não se tenha um consenso sobre o que é considerado inovação. Embora a comparação inevitável com o setor privado, também por isso estar estritamente ligado as empresas e essas serem consideradas inovadoras, nenhum estudo confirma essa tese. Porém o que se observa em comum nas definições encontradas é que o processo inovador possui dois aspectos centrais:
1 – Ser uma novidade na unidade que a adota (intraempreendedorismo), ou seja, trata-se de incorporação de algo novo que pode ter sido utilizado em outra localidade.
2 – Ter interesse público em determinado contexto, não bastando uma ideia, mas a colocando em prática trazendo resultados para a organização. Resumidamente, inovação pode ser considerada como novas ideias que funcionam.
Agenda Positiva
Os riscos dos projetos inovadores, o retorno de longo prazo, a natureza intangível dos ativos e os limitados recursos dos empreendedores individuais, considerando os de pequeno porte, são fatores que demandam a ação do setor público. Como o estado pode ser o investidor inicial da inovação e construir políticas públicas que viabilizem práticas empreendedoras?
Não se trata de todas as atividades econômicas devem se sujeitar ao escrutínio do controle prévio e intensivo da Administração Pública. O Estado deixa de ser guardião para ser vigilante. Não se trata de revogar o controle do Estado sobre determinadas atividades, mas simplesmente reforçar a responsabilidade das empresas e dos cidadãos.
A transparência do governo pode ser incentivada por medidas que privilegiem o acesso e a leitura de peças orçamentárias, projetos de lei, demonstrativos financeiros, além de audiências públicas virtuais. Os dados e as informações de custeio do governo e das compras públicas devem estar disponíveis, de forma unificada e inteligível, e sempre atualizadas. A resposta ao cidadão deve ser submetida a auditoria independente, com metas de qualidade.
A simplificação normativa implica revisão das normas. A supressão de roteiro que atrapalham a vida dos cidadãos e das empresas pode produzir um impacto imediato no desenvolvimento. As entidades de representação da sociedade podem formar conselhos de governança normativa e administrativa, em conjunto com autoridades.
Empreendedorismo como ferramenta de transformação social: um case de empreendedorismo periférico
O Brasil é o país campeão no empreendedorismo por necessidade, segundo estudo da GEM em parceria com o Sebrae, a pesquisa também mostra que o interesse do brasileiro em abrir seu próprio negócio aumentou de 18 para 33%, considerando o intervalo de 2015-2019. Porém ao mesmo tempo que 81% dos empreendedores não possuem nenhum empregado, é um engano menosprezar o potencial do empreendedorismo na geração de emprego e renda. Considerando apenas os empreendedores iniciais que geraram pelo menos um emprego, foram responsáveis pela criação de 6,5 milhões de postos de trabalho no país, sejam formalizados ou não.
O Vai Tec, programa da prefeitura de São Paulo em que a Semente é parceira, traz luz a essa discussão. Na sua quarta edição, a segunda na nossa gestão, mesmo sendo um estrato social pequeno que possibilita atuar, já é possível perceber as transformação que iniciativas oriundas da periferia são capazes de realizarem nos seus territórios. Em duas edições do programa com 48 negócios acelerados, distribuídos nas regiões Sul, Leste e Norte de São Paulo, são 24 contratações durante a execução de 6 meses do programa em cada edição e um aumento médio de 70% no faturamento.
Empreender na periferia não é algo estruturado e acontece, frequentemente, de maneira empírica. Os indivíduos, por necessidade, colocam seus projetos para acontecer com pouco tempo para incubação, com escassez de recursos financeiros e baixa tolerância para erros e aprendizagens. Se o negócio vingar, o empreendedor vira um herói na sua comunidade. São muitas as razões que levam o “empreender na periferia” a ser diferente. Encontraremos, com frequência, empreendedores com uma visão de mundo adaptada à realidade da comunidade, em condições individuais e sociais complexas.
A periferia pode ser um lugar de escassez de recursos mas não de escassez de sonhos. Existem problemas complexos que podem ser resolvidos por meio do empreendedorismo – e pessoas do território podem desenvolver essas soluções por conhecerem de perto como esses problemas se manifestam e as implicações que eles trazem para a localidade.
Quer somar a esta massa de transformação a partir da inovação social? Mande uma mensagem para agendarmos uma conversa!
Texto escrito por Thales Machado