Incubadoras de negócios de impacto existem para apoiar negócios inovadores em seus estágios iniciais de maturidade. O nome vem da alusão às incubadoras neonatais, que proporcionam um ambiente seguro para recém-nascidos que necessitam de cuidados especiais. Na verdade, incubadora é um dispositivo que fornece condições ideais para o desenvolvimento de algo. No nosso caso, esse algo são negócios inovadores.
Negócios inovadores vivem em ambientes com altos níveis de incerteza e, por isso, ter acesso a capacitações (gestão, vendas, marketing), acompanhamento técnico administrativo, infraestrutura, assessoria de imprensa, financiamentos, rede de relacionamento com empresas, acesso a laboratórios e o “selo” da incubadora, tudo isso a baixo custo, pode ser o apoio necessário para não falir ou desistir em momentos de incerteza.
Segundo estudo de 2016 da Anprotec e do Sebrae existem no Brasil 369 incubadoras, que abrigam 2310 negócios (média de 6,2 negócios por incubadora). Muitas delas já se deram conta de uma nova segmentação de mercado, os negócios de impacto social. Não é a toa que ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) e Sebrae possuem um programa focado em capacitar incubadoras de negócios de impacto e aceleradoras para trabalhar com esse público.
A Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs) é outra organização internacional que ajuda as incubadoras nesse sentido. Mas e quais são os critérios de se trabalhar com empreendedores de impacto?
Se empreender é resolver problemas reais, empreender com impacto é ter consciência do impacto gerado ao resolver esse problema.
Segunda a Força Tarefa de Finanças Sociais, há quatro princípios que caracterizam negócios de impacto:
(1) têm um propósito de gerar impacto socioambiental positivo explícito na sua missão;
(2) conhecem, mensuram e avaliam o seu impacto periodicamente;
(3) têm uma lógica econômica que permite gerar receita própria;
(4) possuem uma governança que leva em consideração os interesses de investidores, clientes e a comunidade.’
É por isso que a Semente acredita no empreendedorismo inovador E de impacto como motor de desenvolvimento. Assim, nosso grande desafio é ajudar startups a entenderem seu impacto e negócios de impacto a escalarem mantendo sua essência.
Já utilizamos há alguns anos o Caminho Empreendedor para ajudar empreendedores inovadores a terem consciência do seu processo de desenvolvimento, entendendo seu estágio de maturidade e quais os próximos passos para a evolução do negócio. Hoje temos a maturidade de trabalhar com o Caminho Empreender versão impacto, que inclui elementos de mensuração de impacto, além de adaptações de linguagem.
Entenda: quem se preocupa com impacto pensa, age, sente e se comunica de maneira diferente que quem não se preocupa. Por isso a necessidade de ter um material específico para guiar esse segmento.
Nesse contexto, se sua incubadora quer apoiar empreendedores de impacto, e também ajudar suas startups já incubadas a entenderem seu impacto, é necessário se adaptar (sinônimo de evolução).
Essas adaptações permeiam todos os processos da incubadora, desde a sensibilização de negócios até o acompanhamento:
Para cada uma das dimensões, elenquei o principal desafio relacionado a apoiar negócios de impacto, para que você possa refletir sobre como isso se aplica na sua realidade:
1 – Sensibilização: COMUNICAÇÃO PRECISA
Como é possível atrair quem já se identifica, ao mesmo tempo que se educa quem não conhece o tema? Por exemplo, será usado o termo social na comunicação da incubadora? Como é possível testar diferentes abordagens para entender a reação do público no seu contexto local?
Ainda, o impacto faz parte do core, o coração da sua incubadora? Se sim, isso deve estar refletido na sua estratégia, e consequentemente no seu posicionamento. Converse com os empreendedores incubados para entender se eles se entendem como negócios de impacto, e por quê. Converse também com suas personas, potenciais empreendedores que podem entrar na incubadora, e entenda sua linguagem e o que eles valorizam. Assim você conseguirá falar na mesma língua do seu cliente.
2 – Seleção: CRITÉRIOS CLAROS
Na hora de selecionar os negócios que entrarão na incubadora, você terá critérios específicos para avaliar o impacto do negócio ou a intencionalidade dos empreendedores? Além disso, você pode se perguntar, como é possível incentivar um comportamento na comunidade em que você atua, sem fazer juízo de valor?
Aqui na Semente somos agnósticos, não julgamos como boa ou ruim a intencionalidade dos empreendedores que atendemos. E não somos passivos: unimos esse não-julgamento a um estímulo, o da consciência. Incentivamos as pessoas a entenderem as consequências da existência dos seus negócios no mundo. Como você pode atentar ao impacto, e fazer isso sem excluir quem ainda não está consciente disso? Lembre-se, esse é um processo de educação.
3 – Capacitação: EQUIPE DE CONSULTORES
Como comentei anteriormente, empreendedores buscam uma série de benefícios ao se vincularem a uma incubadora, e um dos principais é o apoio técnico que receberão ao longo desse período. Ter mentoria qualificada dá aos empreendedores a orientação necessária para ajustar os rumos do negócio, entendendo em que a sua energia deve ser colocada.
Digamos que você fez um estudo com seu público e descobriu a melhor maneira de se comunicar e conseguiu selecionar de maneira agnóstica empreendedores de impacto inovadores. Porém, quando chega a hora da mentoria, eles se deparam com um(a) consultor(a) que não entende nada de negócios de impacto. Isso seria frustrante, certo? Aqui a pergunta a se fazer é: “minha equipe de consultores possui as competências necessárias?”. Eles falam a mesma língua dos empreendedores?
O que escutamos de quem atendemos é que a primeira consultoria é uma explicação, do empreendedor para o consultor, de por que visam ao impacto e por que isso muda a estratégia da empresa. Se o consultor já entende isso, pode-se partir direto para o que interessa. É tempo economizado e confiança conquistada.
Além disso, é importante você entender se sua equipe de consultores segue um método de trabalho. Se sim, esse método é eficiente e adequado à sua realidade?
No nosso processo de nos tornarmos consultores, trabalhamos de forma empírica, apesar de estudar os conceitos de vanguarda existentes. Foi aplicando customer development, por exemplo, que descobrimos que ele não é totalmente adequado à realidade brasileira. Por isso desenvolvemos o Caminho Empreendedor (teria sido muito mais fácil só continuar utilizando um método existente e conceituado). E depois o adaptamos para a versão impacto.
Foi vivenciando que criamos nossos métodos, e não o contrário.
Ao longo do tempo fomos também treinando novas pessoas. Primeiro, dentro da nossa equipe, depois, consultores externos. Começou como demandas pontuais e se tornou algo recorrente. Para dar conta do número de negócios que atendemos em nossos programas, possuímos equipes de consultores externos que treinamos e acompanhamos. Foi assim, na prática, que desenvolvemos um novo método, dessa vez para a preparação de consultores, que trabalha as cinco dimensões abaixo:
Certifique-se que seus consultores estão preparados para atender os negócios selecionados e, assim, garanta a evolução dos empreendedores selecionados.
#Dica: Reúna sua equipe de consultores de todas as área de conhecimento, e pergunte a eles o que você pode oferecer para ajudá-los a serem melhores consultores. Isso irá ajudar a fortalecer sua rede, além de conhecer melhor a sua equipe. Não é à toa que o Sebrae possui uma rede de consultores credenciados, para a qual oferece treinamentos contínuos. Como é possível replicar essa rede de credenciados na sua realidade?
Se precisar de um apoio, compartilhamos nosso método de certificação de líderes inovadores com você.
4 – Acompanhamento: MONITORAMENTO CONTINUADO
Ao longo do processo de incubação é necessário realizar medições nos negócios, para entender sua evolução. No estudo de impacto econômico das incubadoras que citei anteriormente, uma das conclusões foi que “Os melhores programas de incubação coletam dados das empresas incubadas e graduadas mais vezes e por longos períodos, acompanhando sua vida empresarial e as transformações consequentes de sua atividade econômica”.
Sei, no entanto, como é custoso fazer esse tipo de medição, ainda mais com empresas graduadas. Como é possível criar uma cultura de métricas nos negócios incubados? Assim, quando você fizer seu estudo, os dados virão sem tanto esforço, pois os negócios já terão esses números mapeados. Se estamos falando de negócios de impacto social, sabemos como os indicadores de impacto, advindos da Teoria de Mudança, é que confirmam a veracidade da intencionalidade dos empreendedores, conferindo credibilidade ao negócio.
Estamos em busca constante pelo aprimoramento e evolução dos nossos métodos. Conte com nossa ajuda para adaptar-se às novas demandas do mercado e auxiliar ainda mais negócios a crescerem e impactarem nosso mundo.
Quer saber mais sobre os nossos programas? Entre em contato com um dos nossos consultores.
Juliano Trevizan foi sócio e consultor da Semente.
2 comentários em “Incubadoras de negócios de impacto”
Conteúdo incrível e muito esclarecedor quanto às incubadoras. Obrigado por compartilhar este conhecimento.
Show, parabéns!