Com o advento do termo inovação e do reconhecimento da necessidade de trabalhar essa temática de maneira mais sistematizada dentro das empresas, houve uma crescente busca por metodologias e formatos de fazer isso acontecer. Como se organizar internamente? Onde focar recursos? Quem toma as decisões? Serão utilizadas estruturas internas ou criadas novas estruturas? são apenas alguns dos questionamentos que passaram a ser importantes para a organização da inovação. Em decorrência disso, grandes empresas começaram a chegar num impasse metodológico: deve-se focar na gestão da inovação ou na governança da inovação?
Apesar de ainda haver algumas controvérsias na literatura e também na sua aplicabilidade, ao longo do artigo, iremos descrever a diferença entre ambas as sistemáticas e como elas podem se complementar. Mais ao final, indicamos alguns caminhos para quando focar na gestão da inovação e quando focar na governança da inovação. Boa leitura!
Entendendo o conceito de Gestão
Para começarmos, vamos entender um pouco sobre o conceito de gestão empresarial. Para Peter Drucker, reconhecido como o pai da administração moderna, a gestão é uma estratégia de condução de negócios a melhores resultados, partindo de ações que envolvem a organização de processos, o controle das finanças, a administração dos recursos humanos e materiais e tudo aquilo que é essencial para a sua manutenção.
Em termos simples, a gestão empresarial, também conhecida como administração de negócios, é a utilização efetiva dos recursos disponíveis na organização em busca de resultados tangíveis. Ações como planejar, construir, entregar e monitorar atividades são algumas das responsabilidades dos Gestores de determinada organização.
Qual a relação entre gestão e inovação?
Ao trazermos esse conceito para o trabalho com inovação, ou seja, a gestão da inovação, nada mais é do que o controle e gerenciamento dos processos e rotinas que fazem com que as estratégias de inovação se operacionalizem.
O foco da gestão da inovação é fazer com que a empresa tenha capabilities (capacidades e habilidades) que a permitam identificar e agir frente a uma oportunidade externa, e use seus esforços criativos para introduzir novas ideias, processos, produtos ou modelos de negócios para atender às demandas do mercado.
Entendendo o conceito de Governança
Já a Governança, que vem do verbo latim gubernare, significa traçar diretrizes. É utilizada para definir estratégias, métricas e políticas gerais para as atividades da empresa, garantindo que todas as partes interessadas sejam atendidas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), o objetivo da Governança é promover uma distribuição balanceada entre poder e controle, fazendo isso entre acionistas, executivos e o restante da gestão da empresa.
Trata-se de um conjunto de regras procedurais que devem ser seguidas por toda a empresa, a fim de estabelecer uma rotina administrativa. Isso assegura mais organização, agilidade e transparência aos processos, permitindo que haja um alinhamento entre os objetivos da organização e os de seus stakeholders. Dessa forma, pode-se dizer que a Governança Corporativa se encontra em um nível hierárquico superior à Gestão Empresarial.
Diferenças entre Governança e Gestão da inovação
Dentre as diferenças entre Governança e Gestão, é possível afirmar que a primeira dita as regras do jogo. Enquanto isso, a segunda joga de acordo com essas regras.
Quando os princípios da governança corporativa são realinhados para o tema inovação, temos um sistema de processos de tomada de decisão multifuncionais. Esses processos definem, alinham e gerenciam iniciativas inovadoras ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, negócio ou serviço.
De maneira prática, é assegurar que a cultura da empresa acolha ideias e pessoas inovadoras; que a gestão tenha planos, recursos e metas destinados ao novo; e que o conselho apoie e premie os executivos em suas estratégias de inovação – lembrando que tais estratégias são de longo prazo e podem ou não gerar resultados, já que a inovação pressupõe cenários de incertezas.
No rol das principais estruturas de governança, temos os comitês e órgãos de apoio, que apenas mais recentemente foram voltados à transformação digital e à inovação. O comitê de inovação tem se tornado o agente principal do conselho na formulação e acompanhamento de estratégias para estimular a inovação nas empresas.
Quando focar na gestão da inovação e quando focar na Governança da inovação?
Para o Professor Jean-Philippe Deschamps, que popularizou o termo governança da inovação, se uma empresa quer sistematizar o trabalho com inovação, ela não pode apenas investir na gestão da inovação. Na opinião dele, de nada adianta as pessoas gestoras apostarem nesse tema se quem toma a decisão não reconhece a sua importância.
Portanto, seus estudos apontam a necessidade de a inovação ter uma estrutura própria, uma que consiga transitar por todos os níveis da organização, desde os tomadores de decisão – conselhos – até a sua operacionalização.
Neste caso, a empresa opta por algumas estruturas. Sejam comitês, grupos de trabalho, heads ou times de inovação que farão a sistematização da inovação naquela organização. Isso de modo que ela consiga tomar decisões, articular e executar o tema de maneira transversal, trabalhando a cultura da empresa ao mesmo tempo em que busca os resultados para a inovação.
Por outro lado, a empresa pode optar por ter um “cargo” de inovação dentro de uma área já existente. Normalmente marketing ou recursos humanos, ou até mesmo criar um novo departamento focado em inovação. Nesse caso, ela está investindo numa gestão da inovação, visto que todo o processo de decisão, articulação e execução acontecerá com apenas um grupo de pessoas, e não de maneira transversal na empresa.
Alguns exemplos com foco na gestão da inovação
Exemplos modernos de foco em gestão da inovação são os Labs de inovação. Eles se constituem quando a empresa opta por transferir todo o trabalho de inovação para um grupo especializado nas novas metodologias, que irão criar e validar uma determinada solução, normalmente em horizontes adjacente e transform para, posteriormente, implementar na empresa.
Dessa forma, o Lab possui autonomia em suas decisões e na sua própria gestão, sem muito interferência da empresa. É como se fosse um prestador de serviço de inovação para a mesma.
Agora vamos imaginar que este Lab está sob responsabilidade de um Comitê de Inovação; e este Comitê ainda é responsável por outras estruturas focadas em inovação, como um Time de Inovação, por exemplo. Além disso, esse Time de Inovação atua como articulador da inovação nas diversas esferas da empresa. Neste caso, podemos observar que existe uma sistemática de Governança da inovação, pois há vários agentes com objetivos e responsabilidades diferentes atuando no mesmo tema.
Cabe ressaltar que, quando falamos numa estrutura de governança, estamos falando no balanceamento de poder e controle entre os agentes. Por isso, ela não existe sem uma estrutura de gestão. No entanto, uma estrutura de gestão pode existir sem uma estrutura de governança.
Por fim, podemos dizer que, quando precisamos ou queremos ter uma estrutura com vários agentes falando, decidindo e trabalhando inovação, precisaremos pensar em uma estrutura de governança. Isso porque já teremos diversos agentes com poder e controle sobre o assunto. Quando iremos centralizar esse assunto em apenas um grupo pequeno de pessoas, estamos falando da gestão da inovação.
Gostou desse conteúdo? Então pode se interessar pelo texto Cultura de inovação: como e por que desenvolver um ecossistema que gera impacto positivo?
Este texto foi escrito por Tamiris Dinkowski, consultora de Inovação Corporativa da Semente.