Por muito tempo o empreendedorismo era visto como um potencial desenvolvido apenas por jovens de classe média, com formação universitária em Administração de Empresas. Mas o empreendedorismo de impacto e o novo olhar sobre o que se pretende fazer para trazer soluções sustentáveis e palpáveis para o dia a dia e entregas que facilitem a vida do outro, se espalhou e chegou às periferias.
“Na quebrada, as pessoas sempre vão dar um jeito para comprar de você ou você comprar delas”
Bruno Brígida
Aquele lugar antes tido apenas como um problema se transformou em um celeiro de ideias e de inovação, revelando mentes que vêm surpreendendo o mercado. É de lá que tem saído soluções empáticas, ou seja, que beneficiam os próprios pares: o jovem e a jovem da comunidade que sentem as mesmas dores do empreendedor, aquele resolveu furar a bolha e investir em seu negócio.
Trouxemos algumas experiências de empreendedorismo de impacto que vão corroborar com essas constatações. É o caso da Boutique de Krioula. Fundada há seis anos, a partir de um processo de autoconhecimento da fundadora Michelle Fernandes, que ao se “descobrir” negra buscou elementos e acessórios que a valorizassem enquanto mulher negra , mas não os encontrou. Foi aí que resolveu fabricar os próprios turbantes e, num trabalho de incursão, percebeu que outras mulheres também estavam passando pelo mesmo processo.
“Não haviam mulheres negras na propaganda e não faziam produtos para mulheres negras, eu me deparei com isso no mercado e falei: ‘’opa, tem alguma coisa errada aí’’, e comecei a procurar algo que valorizasse essa mulher negra e meu primeiro produto, a primeira coisa que eu comecei a usar foi o turbante. Peguei o pouco de dinheiro que eu tinha e investi nos primeiros tecidos e fui atrás dessas mulheres uma por uma, apresentar meu trabalho e mostrar pra elas o que eu estava fazendo e a partir desse momento, eu vi que elas começaram a se sentir melhores, resgatando sua autoestima através do meu produto”, contou.
Já Diogo Bezerra, fundador da PLT4Way, uma escola de inglês que atende pessoas sem recursos financeiros, já começou a empreender com o desejo de causar impacto social. “Não sabia que existiam negócios de impacto social, mas eu queria além de proporcionar um curso de inglês de qualidade, dar acesso a outras pessoas que não teriam oportunidade de pagar pelo curso, então pra vocês terem ideia de como funciona a PLT4Way, hoje nós somos um negócio que a cada 3 alunos pagantes, nós damos acesso a 1 aluno 100% gratuito que vem de uma comunidade”, explicou.
Na contramão de quem começou sem saber o que poderia acontecer, está Bruno Brígida. Ele já tinha expertise como administrador de empresas, mas quis usar seu conhecimento para ajudar pessoas. Com esse intuito, ele criou o Clube da Preta, um coletivo de assinaturas que oferece produtos feitos por afroempreendedores , sendo grande parte dos empreendedores oriundos da periferia.
“Eu acredito muito que empreender na periferia tem muito de conectividade, afinal, ele promove conexões. E o Clube da Preta nasce pra isso, pra promover conexões entre a periferia e o centro, que é a grande dificuldade dos empreendedores. Entrei nesse mercado onde as pessoas negras têm mais dificuldade, onde pessoas da periferia tem mais dificuldade e eu me identifico muito. Quando a Preta consegue ajudar empreendedores que estão na periferia a tirarem seus negócios da periferia e começarem a circular em grandes centros, estamos num caminho bom”, explicou.
O empreendedorismo de impacto social vem justamente dessa vontade de deixar uma marca, de transformar realidades, de dar as ferramentas que o outro precisa para seguir mudando o seu contexto. Enquanto muitos ainda acham que isso pode ser assistencialismo, Diogo defende que essa é a grande chave do negócio: a transformação que eles vão implantar dentro da comunidade e do mundo fora dela.
“Eu estou falando de mudar totalmente a trajetória delas, então quando eu dou acesso ao inglês para o jovem, que é o que eu tenho hoje. Por exemplo, um jovem de 15 anos que é da comunidade, que sabe falar inglês com 15 anos, onde você vê isso?”
Foi o que aconteceu com Michelle que foi educada para trabalhar em uma boa empresa até se aposentar. Segundo ela, quando se fala em empreender, para o preto da periferia não havia referências, a tal representatividade. Por isso, o seu negócio surgiu da necessidade e do exemplo da mãe e avó que sempre venderam comida para complementar a renda de casa. É o famoso “se virar”.
“Quando a gente fala de empreendedorismo, a gente pensa na galera que começou com uma puta grana, um perfil de pessoa que é o cara branco, você não se enxerga naquilo e aí você acha que aquilo não é pra você e a partir do momento que eu comecei a empreender e a me sustentar, conquistar sonhos, a partir de me virar, a minha mente vai abrindo e eu falo: eu tenho possibilidade, eu posso fazer isso, eu tenho capacidade. Quando eu comecei a receber convites, ocupar lugares, as pessoas começaram a reconhecer isso, você se sente mais capaz”, disse.
E apesar das muitas dificuldades, cada um deles acredita na periferia como um lugar de gente que sonha e que conquista. “Eu acredito que a maior dificuldade não é nem fazer seu negócio girar dentro da periferia, mas sair dela, ir para o centro. E tem uma coisa que eu gosto muito de empreender dentro da quebrada, é o olho no olho. As pessoas sempre vão dar um jeito para comprar de você ou você comprar delas, sempre vai ter alguma forma, tem essa humanidade, essa troca de desejos em conquistar coisas”, concluiu Bruno.
Michelle Fernandes, Diogo Bezerra e Bruno Brígida foram os nossos participantes de um dos episódios do ImpactCast.
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