A preocupação com o impacto socioambientais nos negócios tem alcançado esferas públicas e privadas e aumentado o seu alcance nos últimos anos.
Neste artigo, vou mostrar como alguns negócios que tiveram mentoria da Semente identificaram demandas sociais e ambientais latentes no seu contexto, e os transformaram em negócios que culminaram em impacto positivo para a sua comunidade.
Mas, antes, vamos entender o contexto que nos trouxe até aqui.
A evolução
O problemas socioambientais vem ganhando ênfase a partir da década de 1980, juntamente com o processo de Globalização. A Revolução Industrial foi o marco que revolucionou tanto as relações sociais, exercidas entre os homens no desempenho das atividades econômicas e na vida social; quanto nas bases técnicas das atividades humanas com os avanços científicos.
A mudança nessas relações foi também responsável pela transformação na interação entre a humanidade e o planeta, acarretando profundas transformações tanto na dinâmica da vida social como na dinâmica sustentável do planeta.
As condições desenvolvimentistas aqui descritas acarretaram no aumento da preocupação com os problemas ambientais e sociais decorrentes dos processos de crescimento e desenvolvimento.
A preocupação com os impactos socioambientais vai se dando de maneira lenta e diferenciada entre os atores da sociedade, sejam eles indivíduos, governo ou entidades. Segundo o J. C. Barbieri, autor do livro “Desenvolvimento e Meio Ambiente: As Estratégias de Mudanças da Agenda”, este processo lento e diferenciado de preocupação pode ser categorizado em diferentes etapas, quase que em uma evolução:
1 – Uma primeira etapa seria a preocupação com problemas ambientais e sociais localizados;
2 – uma segunda etapa, teria a degradação ambiental e social sendo percebida como um problema generalizado;
3 – e uma terceira, seria a de uma degradação ambiental e social sendo percebida como um problema planetário atingindo a todos, e que acaba por ser produto do tipo de desenvolvimento praticado pelos países.
As questões socioambientais que acometem a dinâmica global demandam soluções inovadoras para sanar estes problemas como forma de reduzir o impacto negativo causado ao âmbito social e ambiental, e o substituindo por impactos positivos que agreguem e somem ao desenvolvimento consciente.
Esta preocupação crescente, passa a integrar também as agendas políticas dos chefes de Estado, como se verifica com a introdução de novos temas na agenda de política nacional e internacional do Brasil a partir dos anos 2000, por exemplo.
O contexto Brasil
É nesta frente que os negócios de impacto social passam a ganhar maior visibilidade e espaço no Brasil, buscando trazer um impacto positivo para a sociedade.
Para entender mais sobre eles, sugiro a leitura mais aguçada sobre o que é um negócio de impacto?
Garantido na Constituição Federal como um direito social, o transporte coletivo no Brasil, em especial, nas grandes cidades, mais do que simplesmente ruim e deficitário, serve como um instrumento de reprodução de desigualdades sociais.
O transporte é um elemento-chave na manutenção da sociedade, uma vez que possibilita o direito de ir e vir, permitindo maior locomoção e acesso. Contudo, ao mesmo tempo que tal instrumento é peça chave para a economia, é este também o responsável pela manutenção de um discriminação entre a periferia e o centro da cidade.
Me permita melhor detalhar tal situação.
PROBLEMA: Os déficits da rede de transporte não abarca por completo a demanda populacional, e nos remete às imagens cotidianas de linhas de ônibus abalroadas de pessoas.
Para além do itinerário bagunçado e sem pontualidade em função do tráfego intenso de trânsito, ainda há o limite horário da circulação de ônibus na maioria das cidades que se restringe ao período da meia noite.
Essa restrição horária, acaba balizando que jovens da periferia, por exemplo, possam usufruir de cinema, teatro e outras formas de cultura, em geral, localizadas na zona central das cidades.
Os serviços de transportes particulares que se popularizaram nos últimos anos, e que poderiam mitigar, em parte, o problema da rede pública de transporte, não o fazem, uma vez que o aplicativo de transporte em carros particulares vetou o acesso do mesmo a diversas regiões da cidade de São Paulo, por exemplo.
Esse é o caso de Brasilândia e das favelas de Paraisópolis e Heliópolis, as duas maiores da cidade, localizadas na zona sul. Quem tenta pedir um carro em um desses bairros vê o recado saltar na tela: “Infelizmente, … não está disponível na sua área no momento”. Conforme a gigante da marca, isso ocorre nas regiões “com desafios de segurança pública”.
SOLUÇÃO: A identificação deste problema e a constatação da grande demanda por parte de passageiros nestas regiões desassistidas pelos aplicativos de transporte, fez com que os empreendedores Emerson e Alvimar, criassem a “jaUbra”.
A jaUbra nasceu da necessidade de atender os bairros periféricos da região da Brasilândia na periferia de São Paulo. Quando os aplicativos mais conhecidos resolveram bloquear essas regiões, os empreendedores enxergaram aí uma oportunidade e criaram um aplicativo.
A vantagem para a população local seguia uma lógica simples: os motoristas da jaUbra não tinham medo de trafegar na “quebrada” porque eram de lá, diferente do que acontece até hoje com os outros apps.
O aplicativo, que roda no sistema Android, tem atualmente cerca de 400 motoristas cadastrados e uma frota de aproximadamente 60 carros. Mesmo com um aplicativo similar a outros do mercado, continuam com uma central de atendimento por telefone porque muitos clientes não têm familiaridade com a internet, e tem auxiliado na redução da discriminação entre centro e periferia.
A JaUbra é tida como exemplo de solução para um problemas social no Brasil
Quando observada a dimensão ambiental, podemos tomar como exemplo a questão do plástico que é impulsionado pela indústria de embalagens, fazendo com que seu uso crescesse de forma exponencial.
PROBLEMA: Conforme a ONU, remodelar a maneira com a qual usamos o plástico, é o maior desafio ambiental do século XXI. No Brasil, por exemplo, 720 milhões de copos descartáveis vão para o lixo, o que equivale a utilização de 4 copos em um dia por pessoa.
Destes, apenas 3% são reciclados devido ao baixo valor econômico (Compromisso Empresarial para Reciclagem, 2010 – associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo.). Um copo descartável pode levar até 400 anos para se decompor, o que gera um grande problema ambiental.
No caso brasileiro, é notável a geração de uma quantidade gigantesca de resíduos em eventos. Basta observarmos o ambiente nos dias posteriores às festividades carnavalescas, por exemplo, para que se note um amontoado de entulhos, embalagens plásticas e principalmente copos descartáveis, tomando conta das ruas.
Além de gerar uma degradação visual do ambiente, o descarte deste plástico todo vai para onde? O que fazemos com toda essa geração de lixo?
Foi observando esse problema e analisando os impactos ambientais do mesmo, que a Larissa, começou a se questionar sobre “Como trazer para o Brasil a solução de copos reutilizáveis, deixando as festas mais limpas e o público mais consciente?”.
SOLUÇÃO: Foi identificado esse problema ambiental e com a vontade de trazer para a realidade brasileira um consumo mais consciente, que ela fundou a Meu Copo Eco, um negócio que transforma o copo em uma ferramenta não só de redução do consumo de descartáveis como também de educação sobre um consumo mais consciente. Essa solução tem trazido um grande impacto positivo não só para a comunidade regional, mas também em termos globais.
Desde o início das operações, a Meu Copo Eco já gerou economia de 143 milhões de copos plásticos descartáveis, e é hoje adotada em grandes eventos e estádios de futebol enraizando a mudança cultural necessária para a mudança ambiental.
Esses foram exemplos de casos de empreendedores que identificaram problemas socioambientais que traziam impacto negativo à sua realidade e os transformaram em soluções de impacto positivo.
E você, tem uma solução para um problema latente que tem impactado negativamente seu contexto, mas não sabe como desenvolver esta ideia?
Vem conversar com a gente para que juntos possamos ser movimento de mudança global!
*Este conteúdo foi produzido por Andresa Wendt