Afinal de contas, o que é o Vai Tec?
O Vai Tec – programa de Valorização de Iniciativas Tecnológicas – é um programa promovido pela prefeitura de São Paulo para fomentar negócios de base tecnológica que estão nas periferias da capital. Nascido em julho de 2013 por meio de uma lei municipal, e gerenciado pela AdeSampa (Agencia São Paulo de Desenvolvimento), um recurso de 32 mil reais é concedido a cada um dos empreendedores contemplados para que possam desenvolver seus negócios.
Percebendo a necessidade de ampliar e aprofundar o impacto gerado pelo programa – que em sua forma inicial apenas disponibilizava o recurso financeiro – em 2018, para sua terceira edição, houve uma reestruturação nos moldes iniciais. O intuito é de permitir que os empreendedores participantes pudessem também melhorar sua capacidade técnica e levar seus negócios ainda mais longe, ampliando assim o impacto gerado nas regiões em que estão localizados.
O principal objetivo do programa é contribuir para a redução das desigualdades regionais dentro do município de São Paulo, ampliando a oferta de emprego e geração de renda nas regiões da capital onde a densidade populacional é desproporcional a essa oferta.
Para isso, passou a ser um programa de aceleração, no qual os negócios escolhidos devem estar localizados nos subdistritos de São Paulo com menor índice de geração de empregos por habitante. O Vai Tec é uma forma de mudar essa realidade. O foco principal é desenvolver o território através da solução de problemas reais, ampliando a oferta de vagas e também a geração de renda por meio de negócios que consigam crescer de forma rápida usando tecnologia.
Tecnologia na periferia
Para executar o programa nas periferias foram selecionadas três organizações que já desenvolviam algum trabalho de apoio a empreendedores locais e possuíam relevância no território. Elas foram chamadas no intuito de aproximar a linguagem, respeitar as particularidades locais e gerar identificação e apropriação do território por parte dos empreendedores.
A Fundação Telefônica Vivo tornou-se parceira do programa, fornecendo a metodologia do Pense Grande – desenvolvida com a Semente Negócios – para ser o ponto de partida para a aceleração. A Semente, então, foi chamada para atuar diretamente como parceiro estratégico do programa, sendo responsável pela cocriação de uma metodologia específica que atendesse as demandas dos empreendedores e pelo desenvolvimento técnico das três organizações locais executoras: Empreende Aí na zona sul, Emperifa na zona leste e APAJE na zona norte – distribuindo a capacidade de inovação e fortalecendo cada uma delas em seus respectivos territórios.
E os negócios?
Em 2018, depois de 203 inscrições foram selecionados 24 negócios, divididos entre as periferias da zona norte, sul e leste da capital paulistana. Alguns deles já eram conhecidos em seus territórios (casos como Boutique de Krioula, Gastronomia Periférica, Clube da Preta, 4Way, LiteraRua e Jaubra), e já possuíam algum faturamento, mas apresentavam dificuldades para irem mais longe, tanto por limitações técnicas quanto por limitações financeiras.
Entre os selecionados estavam negócios de moda, educação, meio ambiente, presentes criativos, RH, mobilidade urbana, segurança do trabalho, finanças, saúde, ecoturismo – alguns inclusive com inovação de produto. São negócios de impacto e tecnológicos, todos empreendedores da própria comunidade, alguns casos já com equipes e gerando renda para si e para a comunidade em que estão inseridos.
No total, foram 9 negócios da Zona Sul, 8 da Zona Leste e 7 da Zona Norte, sendo 33% do gênero feminino, 66% do gênero masculino, 32% identificados como brancos, 68% como negros (entre pretos e pardos), 75% com renda familiar de até 3 salários mínimos, 75% contando com a renda do empreendimento no orçamento familiar e 50% com o empreendimento como única fonte de renda familiar.
O Programa
Entre setembro de 2018 e março de 2019 acontecem as atividades do programa de aceleração. Ao todo o programa está composto por 8 oficinas com conteúdo focado no desenvolvimento dos negócios locais, 3 encontros gerais com todos os empreendedores para troca de conhecimentos e oferta de serviços e 10 encontros individuais com cada negócio – as assessorias.
O foco principal das oficinas é capacitar os empreendedores em gestão e aspectos técnicos do desenvolvimento de negócios como lógica de validação, testes de solução, testes de mercado, organização financeira e processo de vendas com conteúdo teórico e aplicação prática em cada negócio. Nas assessorias o objetivo é dar orientação direcionada às necessidades particulares de cada um deles e mostrar como o conteúdo da oficina pode ser aplicado em cada negócio e contexto.
Para gerar maior engajamento dos empreendedores dividimos os negócios e atividades de maneira a fortalecer as conexões locais e facilitar o acesso às atividades. Assim as oficinas e assessorias foram realizadas nas regiões em que esses negócios estavam, ou seja, na zona sul utilizamos as instalações da Fábrica de Negócios do Jardim São Luís, na zona norte as da Fábrica de Cultura da Vila Nova Cachoeirinha e na zona leste as da Fatec Itaquera.
Isso também ajudou a ampliar a frequência dos empreendedores – que não precisaram se deslocar por períodos de 2 a 3 horas para as regiões centrais, onde geralmente estão as aceleradoras – e apropriação do território local, uma vez que o conhecimento foi levado, discutido, construído e aplicado no território.
Organizações parceiras
Com as organizações parceiras o trabalho da Semente foi focado em:
- Cocriar a metodologia para a aceleração Vai Tec usando a metodologia do Pense Grande como base;
- Desenvolver o conteúdo das oficinas juntamente com as organizações parceiras;
- Acompanhamento e auxílio no desenvolvimento técnico das organizações parceiras para as assessorias com os empreendedores;
- Encontros de capacitação técnico.
Mesmo tendo a metodologia do Pense Grande como base para a construção da metodologia da aceleração Vai Tec foi preciso fazer ajustes que permitissem ao programa respeitar as características locais e de cada negócio e empreendedor.
Adicionamos o conhecimento que cada organização parceira tem do seu território e aplicamos no Caminho Empreendedor, metodologia da Semente para desenvolvimento de negócios inovadores, para tornar a estrutura mais clara. Com isso desenvolvemos, todos juntos, o conteúdo a ser transmitido aos empreendedores em cada uma das 8 oficinas que compõem o programa, tornando possível fazer algo “deles para eles” e não de “nós para eles” .
Ter mais de um encontro para cocriar essa metodologia durante o programa nos permitiu testar modelos e fazer ajustes significativos ao longo de todo o processo, sempre trazendo a possibilidade de observar pontos que no primeiro momento não haviam surgido e contemplar cada necessidade e particularidade local.
Também foi de suma importância a capacitação técnica e a construção de dinâmicas para que as organizações locais conseguissem aplicar e avaliar a evolução dos negócios.
Em todas as oficinas um consultor da Semente esteve presente para auxiliar, mas a facilitação de todo o processo esteve sob responsabilidade da organização parceira.
Nas assessorias, as organizações parceiras realizam o acompanhamento individual de cada negócio. Por haver diversidade de mercado, soluções, públicos e problemas a serem resolvidos para o avanço do empreendedor na estruturação de sua empresa, os consultores da Semente se reúnem semanalmente com as organizações parceiras para ajudá-las a entender melhor os problemas dos negócio, estruturar questionamentos que levem ao avanço dos empreendedores e, principalmente, auxiliar no processo de aprender a aprender e criar repertório que auxilie os empreendedores.
Os encontros de treinamento técnico são momentos em que reunimos as organizações parceiras das três regiões para trocar conhecimentos, aprendizados e dificuldades encontradas nas oficinas e assessorias. As experiências trazidas por cada organização parceira se tornaram exemplos e boas práticas para todos, construindo um aprendizado colaborativo e empoderador.
A somatória dessas ações permitiu à Semente distribuir a capacidade de inovação, capacitar tecnicamente as organizações parceiras, fortalecê-las como agentes de desenvolvimento de negócios em suas respectivas regiões e criar um fluxo de transmissão do conhecimento e treinamento dos envolvidos.
Resultados
Depois de 6 meses de trabalho intenso com os empreendedores conseguimos resultados expressivos! Alguns números:
- A média mensal de faturamento dos negócios saiu de R$ 37.055 para R$ 183.475;
- A média de clientes atendidos passou de 5.438 para 9.366;
- 8 novos postos diretos de trabalho foram gerados e 41 novas parcerias foram fechadas, trazendo mais renda para o território e fazendo circular por mais tempo na periferia.
“Uma das melhores coisas do Vai TEC foram as lições de empreendedorismo. A conexão com outros empreendedores periféricos. O conhecimento adquirido sobre Impacto Social, que o dinheiro pode trazer mudanças estruturais para os nossos bairros”, Silvana Aparecida, da Silvana Trucss.
“Poder trocar experiências com os mentores e empreendedores, poder refinar nosso modelo de negócios e o valor investido ajudou muito a empresa a dar um salto de crescimento”, Odara Délè da Alfabantu.
“Os encontrões Vai Tec foram muito bons para estabelecer uma rede de contatos de empreendedorismo muito boa, abrindo grandes oportunidades de parcerias. As assessorias e oficinas também ajudavam a impor um ritmo para estruturar desde do começo o empreendimento, refinando ideias, redefinindo objetivos, revisitando ideias e agindo”, Roberto Carlos do Polo de ecoturismo Online.
Tudo isso resultou na Metodologia de Empreendedorismo Periférico, material sistematizado em que contamos mais a fundo como trabalhar com empreendedores que estão em periferias e o que é possível fazer para que estes resultados se prolonguem para além do programa.
>>> Conheça a metodologia da Semente de Empreendedorismo Periférico aqui.
Caso você tenha interesse em saber mais sobre como a Semente tem desenvolvido programas de inovação social e desenvolvimento de território e como podemos te ajudar, entre em contato com a gente!
*Este conteúdo foi produzido por Daiane Almeida