Primeiro texto da série que apresenta cada um dos estágios do Caminho Empreendedor. Neste primeiro, vamos entender no que consiste o estágio Explorar do Caminho Empreendedor, seus objetivos e atividades propostas. Além disso, falamos um pouco sobre a contribuição da metodologia para quem quer ter um negócio com propósito, mais alinhado com a transformação e à valorização da vida.
O Caminho Empreendedor é uma metodologia desenvolvida pela Semente e aplicada a negócios inovadores. Dentro do contexto das metodologias de inovação, o Caminho Empreendedor funciona como um catalisador, apresentando uma série de atividades envolvendo o desenvolvimento de negócios, a princípio aderentes a outros contextos, e que foram adaptadas à realidade brasileira.
Dividido em 6 estágios – Explorar, Engajar, Entregar, Vender, Crescer e Estruturar –, o Caminho Empreendedor foi baseado na experiência de uma década de trabalho junto a mais de 30 mil pessoas empreendedoras. Este artigo faz parte de uma série que irá explorar, de forma mais detalhada, cada um deles. Vamos lá?
Como o Caminho Empreendedor contribui para montar um negócio com propósito?
O empreendedorismo inovador nos dá um propósito, que está para além do crescimento econômico, ainda que intimamente relacionados. Empreender com propósito nos preenche de sentido, e isso altera o entendimento sobre criar um negócio, por exemplo. Atrelado a isso, estão metodologias que auxiliam nesta jornada.
Mais do que uma solução ou um produto, ao empreender com propósito, você estará arquitetando uma concepção de mundo – desde que encontre o problema certo para resolver. Com isso, é possível impactar a vida das pessoas, que passarão a compartilhar desse universo. E engana-se quem pensa que ter um propósito para seu negócio é algo necessariamente gigantesco (acabar com as queimadas na Amazônia, por exemplo).
É possível ter como propósito ensinar artesãs de uma pequena cidade do interior a vender melhor seus produtos e, com isso, gerar renda para elas e suas famílias. Criar um espaço de acolhimento onde as pessoas possam receber atendimento psicológico, melhorando sua qualidade de vida. Ou transformar resíduos orgânicos em gás natural, fazendo com que o descarte desse tipo de material tenha um rumo diferente que não a natureza. Consegue entender a diferença?
Ter a transformação de realidades econômicas, sociais e ambientais como parâmetro fundamental para a abertura de novos negócios converte a atividade empreendedora num meio de valorizar a vida de indivíduos e comunidades. É mexer nas pequenas engrenagens do mundo, a partir de soluções inovadoras, gerando bem-estar social e econômico e contribuindo muitas vezes para a manutenção e revitalização do meio ambiente. E para isso, existem métodos bastante eficazes, como o Caminho Empreendedor.
Introduzindo o Caminho Empreendedor
Para poder introduzir o estágio Explorar do Caminho Empreendedor, é necessário revisitar alguns conceitos básicos com os quais a gente trabalha aqui na Semente. O primeiro deles é o de inovação. O que é inovação para nós? É resolver problemas reais, com soluções de mercado, em contextos com altos níveis de incerteza. E aqui, há três elementos importantes: identificar problemas reais, construir soluções de mercado e em ambientes com altos níveis de incerteza.
Um dos instrumentos para se fazer inovação são as startups. Ou seja, uma organização temporária que está em busca de um modelo de negócio viável. Portanto, não falamos de uma empresa grande, com um modelo de gestão tradicional, mas de um tipo de gestão ligada ao empreendedorismo. Além disso, é fundamental entender essa temporalidade inerente ao conceito de startup.
Se uma startup está em busca de um modelo de negócio viável, isso quer dizer que ela está lidando com o desafio de diminuir as incertezas, posto a sua finalidade. O resultado dessa lógica, portanto, é a diminuição dos riscos inerentes à atividade empreendedora. Mas isso significa que as coisas vão dar mais certo ou menos errado? A resposta é: não!
Não há necessariamente uma relação de proporção neste caso, ainda que um risco maior leve a um tombo maior, certo? Normalmente, quando o assunto são as startups, lembremos, estamos trabalhando também com a escassez de recursos e de tempo. Por isso, elas precisam modular esse risco.
É importante entender: uma startup deve ser gerenciada exatamente como uma empresa maior? Não. E isso se dá justamente por suas características (temporalidade e a busca de um modelo de negócio viável) e pela mentalidade empreendedora que orienta quem deseja se envolver no processo. Diante disso, as metodologias de gestão também são diferentes.
Um outro jeito de fazer as coisas
No final dos anos 2010, nós da Semente começamos a olhar mais atentamente para essas metodologias. Nossa visão de mundo naquele momento era de que se fazia necessário transformar o jeito de abrir um negócio no Brasil. A partir disso, começamos a testar essas metodologias, todas juntas, levando em consideração as especificidades do contexto nacional.
O ecossistema empreendedor brasileiro tem características próprias, apresentando diferentes níveis de maturidade, seja do negócio ou das pessoas envolvidas. A cultura que envolve o empresariado no país ainda é muito fechada. Nesse sentido, inovar ainda não é tido como uma prioridade – ainda que haja movimentos de mudança mais recentes. Do mesmo modo, a cultura de tomada de risco ainda é baixa, diante dos solavancos da economia. Por fim, boa parte dos grandes negócios no Brasil são dependentes de relacionamento, sejam institucionais ou governamentais.
Além disso, o que se pode dizer a respeito da nossa predileção às startups está ligado, por exemplo, à capacidade inovadora de brasileiros e brasileiras em um cenário de necessidade; ao aparato de estratificação e mudança social; questões envolvendo parâmetros de diversidade e recortes específicos das questões de gênero.
É bem verdade que a maioria das startups ou negócios inovadores não dão certo, independente do nível de perseverança ou de genialidade das pessoas envolvidas. Mas como diz Eric Ries em A startup enxuta, “O sucesso de uma startup pode ser alcançado seguindo-se o processo correto, que pode ser aprendido e, portanto, ensinado”. Tudo isso contribuiu para a existência de uma metodologia atenta à vivacidade do contexto, como é o caso do Caminho Empreendedor.
Caminho Empreendedor estágio Explorar
Por que o Caminho Empreendedor se difere das outras metodologias? Qual é a lógica por trás da sua construção? O Caminho Empreendedor emprega uma lógica capaz de identificar em que etapa o negócio está. Para isso, existem estágios – Explorar, Engajar, Entregar, Vender, Crescer e Estruturar – que auxiliam na abordagem. Em cada estágio, busca-se orientar quais ações específicas a pessoa empreendedora deve realizar, a partir de uma série de atividades específicas.
Cada estágio tem um objetivo claro e alcançável, em outras palavras, um marco que precisa acontecer. No estágio Explorar, o grande objetivo é o de encontrar uma missão. Isso significa conseguir encontrar um problema efetivamente relevante e olhar para uma possibilidade de resolução desse problema, a partir do desenvolvimento de algumas hipóteses, tendo como norte a solução a ser desenvolvida. Para isso, algumas atividades são propostas para esse momento.
Atividade de número #1: formar um time de fundadores
A primeira atividade é formar um time de fundadores. Ou seja, escolher as outras pessoas que vão tocar o negócio. Todavia, aqui existe um ponto: será que essa é a primeira etapa? Ou deveria ser uma atividade para um estágio posterior?
Muito do que percebemos, em milhares de consultorias realizadas ao longo de mais de 10 anos, é que cuidar da formação do time de fundadores desde o início, e ter pelo menos mais uma pessoa compondo-o, aumenta muito as chances de sucesso do negócio. Do mesmo modo, isso permite que os diálogos acerca do negócio em questão sejam enriquecidos.
Então, é por isso que recomendamos a execução dessa atividade logo no primeiro estágio – ainda que as decisões em torno dela acabem reverberando e acontecendo nos próximos estágios também. Em outros termos, é possível dizer que não há um caráter de exclusividade na realização da atividade. Isso porque, até a startup apresentar condições mínimas para realizar a sua primeira venda, uma grande rotação no time de fundadores pode ocorrer. De qualquer maneira, essa busca é importante.
Atividade de número #2: identificar uma oportunidade
A segunda atividade consiste em identificar uma oportunidade. Ou seja, olhar para um problema relevante do mundo. É interessante frisar que tal problema relevante do mundo sempre vai ter um recorte. E esse recorte pode ser tão específico quanto o problema de uma empresa na linha de produção X, ou muito abrangente, como problemas envolvendo a distribuição de alimentos ao redor do mundo.
Para auxiliar no desenho desse recorte, algumas ferramentas se fazem bastante úteis, como o lean canvas e o business model canvas. Ambas são relevantes aqui. Contudo, o business model canvas simplificado – ou seja, o quadro que apresenta questões como: Qual é o problema? Qual é a solução potencial? Quais são os canais para isso acontecer? Como esse negócio geraria receita? – já consegue dar conta do recado, possibilitando um layout.
Além disso, fazer um mapeamento mínimo do mercado é fundamental para entender onde aquele potencial negócio tem mais chances de atuar com sucesso. Quando se fala em mapear o mercado, não é o mesmo que executar uma análise de concorrência. Mas, sim, mapear uma determinada cadeia de valor: como é a movimentação do mercado em relação à solução proposta? Quem são os atores que dão insumos para o processo? Os potenciais clientes? Quem são os parceiros? Existem concorrentes diretos ou indiretos?
Tudo isso irá auxiliar na busca por identificar uma oportunidade que seja relevante para a atuação do negócio.
Lean canvas x business model canvas: qual caminho tomar?
Dentre as ferramentas disponíveis, essas são as que a gente mais utiliza aqui na Semente. Contudo, na trilha do Caminho Empreendedor, não há uma obrigatoriedade em relação a qual delas você deve usar exclusivamente, ou com maior ou menor frequência. Mas há um ponto-chave: os frameworks.
Tanto o lean canvas quanto o business model canvas nos servem, e não nós a eles. Em termos mais claros: se determinado modelo serve para você, utilize-o. O mais importante, nesse caso, é ser capaz de ir incorporando a lógica por trás do frame – o que reforça, inclusive, a capacidade de trabalhar também na ausência desse aparato.
Por exemplo, no estágio Explorar do Caminho Empreendedor, a depender da expertise da pessoa consultora, ela pode não utilizar o canvas inteiro e se ater somente aos pontos relacionados ao problema, à proposta de valor, aos canais de aquisição e como isso poderia gerar receita. Por outro lado, a depender do nível de maturidade da pessoa empreendedora e, consequentemente, do negócio, será mais ou menos eficiente preencher o quadro inteiro.
Os pontos citados acima são elementos necessários. Pois com eles, será possível passar para o Mapa de Empatia, com a finalidade de entender melhor os diferentes públicos, e compor por completo o traçado do primeiro estágio.
Todas essas ferramentas ajudam a organizar as hipóteses que precisam ser testadas – um dos resultados centrais dessa primeira etapa. Com isso, será possível entender o que fazer para engajar potenciais clientes. Essa parte da atividade vai nos dar os insights mais importantes sobre o andamento do processo. A ideia do marco é saber quais hipóteses testar para, ao longo do tempo, ir adaptando se serão duas ou três hipóteses fundamentais.
Pensando hipóteses fundamentais: um exemplo
Hipóteses fundamentais são proposições sem as quais determinado negócio irá validar ou não as condições para dar certo. Em suma, no estágio Explorar, o crucial é conseguir fazer o exercício de estruturar as hipóteses para conseguir, no momento seguinte, no estágio Engajar (assunto do próximo texto), efetivamente entrar em contato com os potenciais clientes a fim de fazer essa validação. Vamos a um exemplo.
Marcelo está tendo dificuldades em ser um pai melhor com a chegada do seu segundo filho. Então, ele tentou buscar materiais para desempenhar esse papel – e não encontrou muito material. O que veio à sua mente? “Eu preciso ajudar outros pais e mães a serem melhores nessa relação”. Ou seja, essa é a oportunidade que ele identificou.
Agora, como Marcelo pensou no modelo de negócio? O público-alvo será composto por pais e mães que querem se tornar melhores pais e mães. A partir disso, elabora-se uma proposta de valor: fazer educação para essas pessoas, a fim de permitir isso. Educação parental é a solução. Outro ponto: como distribuir isso? Distribuição on-line, para ter certa capacidade de escala.
Dado esse contexto, Marcelo então tem como hipóteses mapeadas:
- O público-alvo precisa ter filhos e interesse no tópico da educação parental de forma genuína;
- Esse interesse precisava ser expresso on-line para estar condizente com o modelo de negócio proposto; e
- Esse público precisa desembolsar alguma coisa para ter essa capacitação.
O grande marco do estágio Explorar não é ter todos os detalhes do negócio. Mas é conseguir ter um setting de hipóteses que vão te permitir caminhar e evoluir com o negócio.
Uma das características do Caminho Empreendedor é a sua simplicidade – e por isso também é muito efetivo. E ele tem essa característica por uma razão: foi feito para isso!
Próximo passo: Engajar!
Até aqui você leu que o estágio Explorar do Caminho Empreendedor ajuda a identificar o nível em que determinado negócio está. A finalidade do seu primeiro estágio é que as pessoas envolvidas possam entender quais hipóteses testar. Para isso, existe a necessidade e importância de formar um time de pessoas fundadoras e de identificar uma oportunidade.
Além disso, há a necessidade de fazer o mapeamento de mercado; usar as ferramentas como lean canvas, business model canvas e o mapa de empatia, a fim de estruturar um quadro de hipóteses, que vai possibilitar a geração de testes. O desafio final da jornada é encontrar um modelo de negócio viável.
Por fim, o próximo estágio do Caminho Empreendedor é conhecido como Engajar. Nele, as pessoas empreendedoras estão focadas em entregar valor para o seu público-alvo. Elas estão em busca de resolver o problema da forma mais simples possível, a fim de verificar se o público está disposto a pagar por isso. Nos vemos lá!
Gostou deste conteúdo? Então, você pode se interessar pelo texto A história do movimento que inspirou a metodologia Caminho Empreendedor.