Esse é o último post da série de posts sobre o futuro das aceleradoras. Para quem não teve a chance de ler os outros posts, seguem abaixo:
- Parte 1: O futuro das aceleradoras
- Parte 2: Venture building
- Parte 3: Veículo de investimento de anjos
- Parte 4: Especialização setorial
Dessa vez vou falar da tendência mais forte, que vem ganhando força no Brasil nos últimos dois anos, e que está mudando o jogo das aceleradoras: corporate ventures.
Mas o que significa corporate ventures?
É quando uma empresa estabelecida, seja ela aberta (corporação) ou fechada, decide investir em novos negócios inovadores por meio de capital de risco. Essa tendência é fortíssima no mundo todo. Segundo a CBInsights, existem mais de 200 braços de VC de empresas ativos no mundo, sendo que mais de 50 deles fizeram seu primeiro investimento na primeira metade de 2016.
Quando pensamos em investimento de empresas em startups o que vem na cabeça geralmente é a Google Ventures ou Intel Capital, os corporate ventures mais ativos do mundo. Porém, atualmente não apenas empresas de tecnologia possuem braços de investimento: dos 10 corporate ventures mais ativos em 2016, 3 deles não são de empresas de tecnologia (Pfizer, GE e Roche).
Para mostrar como essa tendência é realmente forte, tivemos também em 2016 tivemos dois super deals de grandes empresas não tecnológicas que compraram empresas inovadoras: a compra do Dollar Shave Club pela Unilever por US$1bi e do Jet.com pelo Walmart por US$3bi.
Evolução do número do valor investido e número de deals vem acelerando
Existem pelo menos três argumentos sobre porque grandes empresas fazem corporate venturing:
a) Inovação feita dentro de casa raramente funciona e é mais caro fazer internamente do que comprar inovações de fora, já validadas pelo mercado.
b) Fomentar o crescimento de plataformas, como é o caso da Intel ou da Salesforce ou mesmo do Google, ao investir em aplicativos com alto potencial para promover plataforma Android.
c) Mostrar que estão fazendo inovação para o mercado. Especialmente no caso de corporações, que têm suas ações vendidas em bolsa, é importante mostrar que estão inovando.
E o que isso tem a ver com as aceleradoras?
Tem tudo a ver. As grandes empresas estão colocando seu pé no mundo do empreendedorismo inovador de diversas formas e muitas delas optam por entrar em investimentos early-stage, para estarem participando logo no início de empresas que tenham conexão com suas cadeias de valor, podendo “comprar barato”.
Mas as grandes empresas não sabem como se conectar com as principais redes de empreendedores, como encontrar as melhores startups e fundadores e como ajudá-las a trabalhar na fase de descoberta e validação. E é exatamente isso que as aceleradoras fazem.
Empresas como Bradesco, Porto Seguro, BASF e Telefonica são algumas que já possuem programas de corporate venture para empresas de estágio inicial no Brasil e alguns desses acontecem em parceria com aceleradoras.
Importante notar que esta tendência se une com a tendência de especialização setorial, pois todos os programas acima buscam inovações de um certo setor, que possam se conectar com a cadeia de valor dos financiadores.
Além desses programas, temos no país vários fundos corporativos ativos que olham para empresas mais avançadas, como Qualcomm Ventures, Microsoft Ventures, Intel Capital, etc.
Fora do Brasil, as aceleradoras também vem aproveitando essa tendência. A Techstars, por exemplo, possui diversos programas de aceleração em parceria com empresas, como Target, Barclays e Amazon.
Aqui na Semente, mesmo não sendo uma aceleradora, somos especialistas e líderes em desenhar e executar programas de empreendedorismo com foco em inovação e, apenas em 2016, apoiamos três empresas de tecnologia a criarem modelos internos para trabalhar com investimentos em novos negócios. Estaremos investindo mais fortemente nesse mercado em 2017.
Acredito que essa é a tendência mais forte a afetar o mercado de apoio a empresas early-stage no Brasil, atualmente financiado majoritariamente por dinheiro institucional. Com orçamentos de nível corporativo chegando, o mercado vai crescer e se transformar muito nos próximos anos. Vejo boa parte das iniciativas e programas de apoio a empreendedores no futuro sendo financiados por grandes empresas e corporações.
E o futuro?
As aceleradoras já estão se movendo para aproveitar essa tendência, mas uma das questões que fica é: como lidar com o conflito de pipeline e de interesse entre os programas corporativos e os seus próprios programas abertos de aceleração? Ainda não está claro se serão as aceleradoras que vão ocupar esse espaço ou se serão organizações mais” agnósticas”, mas certamente é uma das melhores estratégias de sobrevivência desse formato no longo prazo.
Agora é esperar para ver o que vai acontecer nos próximos anos com as mais de 20 organizações que atualmente, início de 2017, se chamam de aceleradora no país. Na minha visão, nos próximos anos vamos ver uma consolidação de principais players no país e entrada de players estrangeiros (como Techstars e 500). Vejo também potencial de o equity crowdfunding e os sindicatos (formato onde investidores anjo âncora são curadores de deals e são remunerados se trouxerem sucesso) também tomando parte significativa do investimento early-stage no país.
Bruno Peroni foi sócio fundador da Semente.