Menos de 1%, este é o percentual dos adultos brasileiros que desenvolvem atividades intraempreendedoras como parte do seu trabalho, segundo o último relatório do monitoramento global do empreendedorismo (GEM). Para fim de comparação, estamos atrás da maioria dos países europeus analisados, onde os percentuais chegam até 8%, assim como, atrás de Colômbia Equador e Chile na América do Sul.
A questão é: A organização que você trabalha faz parte da restrita lista de companhias que fomentam o intraempreendedorismo ou da extensa lista que não?
Neste post, falaremos a respeito deste tema amplamente discutido mas pouco implementado, quando iniciativas sobre ele surgem, enfrentam diversos obstáculos internos que as impedem de evoluir. Desmistificamos a ideia do intraempreendedorismo como apenas um escritório legal e momentos de brainstorming entre os colaboradores da empresa, além de trazermos pontos práticos para você começar a se preocupar caso ainda não tenha fomentado nenhuma iniciativa juntos aos colaboradores.
Entendendo o intraempreendedorismo
Para definir a figura do intraempreendedor, é necessário entender o que é empreendedorismo: para nós, empreender é resolver problemas reais, por meio de soluções de mercado em ambientes com altos níveis de incerteza!
Vamos aprofundar!
Problemas reais: A diferença entre o que é e o que deveria ser. Um problema real precisa ser validado, mais pessoas precisam senti-lo.
Soluções de Mercado: A solução precisa ter adesão de mercado, é necessário ter quem compre/utilize.
Altos níveis de incerteza: Empreender pressupõe incertezas que vão desde o desconhecimento do mercado, recursos humanos, financeiros, tecnológicos e até mesmo conhecimento do próprio empreendedor.
Além disso, é importante observar e compreender dois aspectos básicos do empreendedorismo: Por necessidade: Onde devido a fatores externos – crises, desemprego, etc – o indivíduo precisa empreender para seu próprio sustento e sobrevivência, na maioria das vezes, este está relacionado à modelos mais tradicionais de negócios e iniciativas.
Por oportunidade: Onde o indivíduo observa a oportunidade de mercado e se planeja para empreender, neste caso, há tempo para tomada de decisão e há espaço para testar hipóteses.
Mas o que então é o intraempreendedor?
Como o próprio nome sugere, o intraempreendedor é aquele colaborador que tem autonomia para atuar como dono do negócio, ajudando a movimentar a criação de ideias e a transformação dessas em soluções de problemas dentro das organizações, mesmo que indiretamente.
O termo significa “empreendedor interno”, ou seja empreendedorismo dentro dos limites de uma organização já estabelecida. Ele foi utilizado pela primeira vez em 1985 por Gifford Pinchot III.
Talvez você esteja refletindo: Dentro das organizações já estabelecidas o nível de incerteza diminui e nem sempre a solução precisa ser de mercado.
De fato, esse contexto pode trazer mais segurança para o intraempreendedor pela quantidade de recursos disponíveis (financeiros, humanos e etc) e pelo já conhecimento do mercado alvo. Entretanto, o que acontece com frequência é que a incerteza se mantém por dois pontos.
1. O mercado varia e muda muito rápido, logo é necessário ficar atento a essas mudanças.
2. Por vezes ela se desloca e aparece como obstáculos internos da companhia que tensionam as iniciativas empreendedoras, seja pela cultura, seja pela estrutura, ou até mesmo pelas lideranças.
Características do intraempreendedor
Além disso, é crucial pontuar o que torna um colaborador intraempreendedor. Várias habilidades são relevantes para empreender dentro das companhias, entretanto, destaco as cruciais dado o contexto e os desafios que serão encontrados na prática:
1. Atenção aos problemas vivenciados no dia a dia da organização. Por vezes, aquele pequeno problema visualizado em um processo ou atividade interna é negligenciado por “sempre ter sido feito da mesma maneira”, o intraempreendedor está atento aos problemas e as oportunidades de melhorias visando encontrar as soluções mais adequadas para o contexto.
2. Rua! – Estar atento às mudanças de comportamento dos clientes e do mercado. Uma das melhores formas de identificar tendências é encontrar padrões de comportamentos, sejam eles positivos ou negativos para o business da organização hoje. Para isso, é importante ir pra rua, ouvir e ver os clientes, observar os movimentos de concorrentes e atores do mercado para diagnosticar problemas e resolvê-los.
3. Visão estratégica*. Além de estar atento às nuances da operação, é crucial compreender os objetivos da organização a médio e longo prazo. Entender os norteadores estratégicos te guiará para tomar decisões e buscar soluções que impulsionam a visão da alta liderança.
*Visão estratégica também pressupõe questionar o caminho com fundamentação e embasamento.
4. Autoconfiança e influência. Acredite, você precisará muito delas!
Por vezes, o intraempreendedor é questionado por outros colaboradores e lideranças a respeito dos resultados dos seus projetos, por vezes ele é subestimado. Performar nesse ambiente de pressão e incerteza não é tarefa fácil, a autoconfiança é fundamental. Junto dela a influência para levar as iniciativas adiante dentro da hierarquia organizacional.
Mitos e falácias
Agora que você já sabe o que é o intraempreendedorismo e quais são as características do intraempreendedor, fica mais simples compreender o que não é, ainda assim, precisamos deixar claro, pois por vezes o conceito é deturpado. Segue abaixo alguns exemplos:
> Fazer brainstorming (chuva de ideias) com a equipe e esperar por um insight brilhante dos colaboradores não é fomentar o intraempreendedorismo.
> Conversar sobre os problemas da organização/área e não ter próximos passos claros com encaminhamentos, donos, entregáveis e prazos não é incentivar a inovação, muito menos a melhoria.
> Contratar uma consultoria e esperar mudanças extremas na postura dos colaboradores, sem incentivo da alta liderança, esforço e exemplo não vai funcionar. É necessário uma atuação sistêmica.
>Treinamentos esporádicos sobre inovação e empreendedorismo sem estrutura, fundamento e análise por trás, criam uma falsa sensação de evolução. O que pode ser pior que não evoluir.
Palavras duras são necessárias ao trazermos os mitos e falácias, eles são sabotadores que consciente e inconscientemente assolam diversos gestores de organizações, é preciso estar atento para não ser influenciado por tais vieses.
Dicas de como fomentar o Intraempreendedorismo na prática
Se você chegou até aqui, é porque há o interesse em aprender mais sobre como fomentar e potencializar o intraempreendedorismo na prática, o que é muito bom. Por outro lado, se estiver aguardando respostas simples, não tenho uma boa notícia.
Fazer com que os colaboradores se tornem intraempreendedores não virá com ações pontuais, sem estrutura, fundamentação e esforço de todos os atores interessados, o caminho da teoria para prática não vai ser trilhado do dia para a noite. É preciso uma visão sistêmica de médio/longo prazo com fundamento robusto e coerente com os valores, cultura e visão estratégica da organização.
Entretanto, é necessário dar o primeiro passo. Para isso seguem algumas dicas:
- Inserir no dia a dia da organização:
De nada adianta objetivar ser uma organização inovadora, que está atenta às tendências, as mudanças do mercado, aos processos e inovações internas, se a rotina dos colaboradores foca apenas na operação, se os times internos estão centrados apenas no que eles precisam entregar.
O intraempreendedorismo precisa ser fomentado em todas as áreas da organização de maneira frequente, precisa ser inserido no dia a dia de cada pessoa, como por exemplo na 3M, onde a inovação está inserida nas metas e indicadores dos líderes, das áreas e de todos os colaboradores da organização.
Para saber mais sobre o case 3M, confira o CorpUp Talks número 7, nosso podcast em parceria com a UBISTART. Nele, Luiz Serafim, Head de Marketing, e-Commerce e Inovação na 3M do Brasil conta um pouco de como a organização pensa e execução inovação.
- Programas de intraempreendedorismo:
Outra maneira de iniciar o fomento ao intraempreendedorismo é através de programas específicos para isso, estes demandam mais esforço de tempo e dinheiro, normalmente se contrata uma empresa externa para desenhar e operacionalizar a execução. Essa empresa busca entender os principais gaps e objetivos e traça ações personalizadas para o seu contexto.
Por vezes, esses programas falham, seja por alinhamento de expectativa, seja por falta de apoio estratégico ou até mesmo por não estar na prioridade da organização, fato é que, se escolhida como forma de iniciar, saiba que é preciso atenção e muito esforço para fazer dar certo.
Na Semente, ajudamos diversas organizações com essa e outras demandas referentes a inovação, vale a pena se debruçar sobre nossa metodologia para entender mais a fundo como fazemos o que fazemos.
- Identifique os entusiastas, disponibilize tempo para eles despenderam à inovação. dê espaço!
Primeiro, você sabe quem são os colaboradores com características intraempreendedoras?
Identificar os entusiastas do intraempreendedorismo é fundamental para começar por exemplo um projeto piloto e aprender com ele, com certeza, ao terem tempo destinado para inovação, eles enfrentarão desafios ainda não vistos pela organização.
Pode ser que uma importante contratação demore tempo demais sendo avaliada pelo setor jurídico, pode ser que os entusiastas sofram pressão interna de outros colaboradores por não estarem executando um projeto que traga resultado a curto prazo, e por fim, pode ser que você veja que há um longo caminho a ser percorrido para disseminar o mindset por toda empresa.
Os entusiastas são quem sofrem do problema e já fizeram uma solução caseira para resolvê-lo. Na prática são as pessoas que já identificaram pontos de melhoria na organização, criaram iniciativas para saná-los mas por algum motivo (alguns já trazidos anteriormente) não deu certo.
E não se esqueça! As pessoas precisam de tempo e espaço, existem 3 tipos principais de incentivo de tempo para os colaboradores buscarem inovações:
1- Tempo indeterminado: quando a empresa apenas comunica que os colaboradores podem inovar, no entanto, não determina quando e nem quanto. Se a cultura da empresa ainda não está voltada à inovação, normalmente esse tempo não é utilizado para isso.
2- Tempo determinado: quando a empresa estipula um dia na semana/mês para todos os colaboradores pensarem em inovação. Normalmente nesse tempo são promovidos workshops que incentivem o pensamento criativo e aprendizagem.
3- Tempo definido: faz parte da cultura da empresa disponibilizar um percentual do tempo do colaborador para projetos de inovação, tanto pessoais como para a empresa. É o caso do Google e da 3M que incentiva seus colaboradores a dedicar 15% do tempo de trabalho a projetos fora do escopo cotidiano.
Uma excelente forma de começar
Dito tudo isso, você não pode sair deste artigo sem um próximo passo claro para seguir aprendendo sobre o tema, mais que isso, o objetivo é fazer com que você dê o primeiro passo para fazer parte da solução e transformar a organização que você trabalha, em um lugar mais empreendedor. Dentre várias formas que já trazemos aqui irei comentar uma das que considero a mais simples para começar.
Na semana passada, lançamos um ebook completo com um passo a passo para executar um hackathon dentro do seu time. Toda empresa tem problemas, o hackathon é a melhor forma de usar a inteligência coletiva para resolver problemas do grupo. Em resumo, é dar autonomia para quem vivencia o problema resolvê-lo, sem esquecer é claro, de próximos passos definidos e um processo que acolha todas as ideias.
No material, nos aprofundamos nas estratégias de organização de hackathons, desde o pré lançamento, definição de objetivos e noção de sucesso, até o pós evento, onde discorremos sobre a coleta de indicadores e informações para projetar o próximo. Ele será o seu guia completo para construir hackathon, do estratégico ao operacional.
Por fim, é importante ter em mente que para fomentar o intraempreendedorismo e fazer parte das empresas que contribuem para a inovação é necessário foco e prioridade, é preciso dar os primeiros passos de maneira correta, confiar e incentivar a equipe. E apesar de não parecer fácil, seguindo recomendações que vimos, é mais simples do que imaginamos.