Antes de começar, para quem não conhece, a We Fix é um marketplace, para consertos de celular in loco. Conectam técnicos especializados no conserto de celulares á pessoas que possuam essa demanda. Como resultado, solucionando o problema do cliente no local o qual ele se encontra.
Me lembro muito bem do primeiro encontro com a startup. Chegaram para reunião o César junto com o Lucas, sua maleta para consertos e um plano de negócios. Iniciamos nossa primeira consultoria. Logo depois levantaram o principal desafio da startup (ou ao menos o que a maioria das startups pensam que é o seu desafio): Captar investimento.
De acordo com o plano de negócios eles iriam trabalhar com microfranquias. Ia ser preciso mais ou menos 1 milhão de reais para aluguel de um espaço físico. Estoque de peças dos principais modelos de celulares. Desenvolvimento da plataforma. Compras das maletas. Ferramentas para os prestadores de serviço. Investimentos em materiais de apoio e marketing pesado para o lançamento da plataforma.
A ideia de trabalhar com estoque, no modelo de microfranquias e iniciar com essa grande estrutura não me agradou. Não é o que nossa metodologia, o Caminho Empreendedor, indica para qualquer negócio inovador fazer. Além disso, ainda não encontrei um investidor louco o suficiente para investir um milhão de reais em uma startup que ainda não havia saído do papel.
Então, qual foi a proposta?
- Esquecer do investimento e do plano de negócios, nenhum dos dois ajudaria naquele momento.
Um plano de negócios funciona muito bem para abertura de empresas tradicionais, não para startups. Startups possuem muitas incertezas e é difícil definir metas e estratégias de crescimento, tudo pode mudar de uma semana para outra.
Quanto ao investimento, além de não ser necessário, iria diluir consideravelmente a participação dos sócios na startup, pela quantidade e momento que estava sendo captado.
- Não iniciar com uma estrutura grande, sem estoque e sem uma super plataforma. “Think big, start small, learn fast…”
Primeiro seria realizado pequenos testes para validar a contratação de técnicos online e o conserto in loco. Depois ia ser trabalhado o modelo marketplace, apenas conectando os técnicos ao público final. Além disso, a conexão entre os técnicos a fornecedores seria feita com preços diferenciados. Tornando a necessidade de estoque dispensável, gerando receita através de um percentual sobre a compra de produtos na plataforma.
- Não investir no desenvolvimento de uma plataforma robusta.
Colocaríamos para rodar um MVP em uma plataforma simples, gratuita e buscar um sócio desenvolvedor para a startup.
Agora imaginem a cara do Lucas e do César quando propus todas essas mudanças. É claro que houve um pouco de resistência contudo levaram apenas umas duas ou três consultorias para a ideia amadurecer. O fato de não estarem conseguindo sucesso na captação de investimento acabou contando a meu favor naquele momento.
Como o MVP funcionaria no marketplace?
Da missão impossível de conseguir um investimento de um milhão fomos ao um MVP que levaria em torno de duas semanas para rodar. O MVP consistia em:
- Entrar em contato com os técnicos da rede da startup. Oferecer para participarem do negócio, pagando um setup de mais ou menos 2 mil reais para compra da maleta com ferramentas, algumas peças e treinamento.
- Encomendar maletas e peças.
- Rodar alguns testes com os técnicos, conectando eles aos clientes que já chegavam até o Lucas porque por um bom tempo o Lucas foi um excelente técnico de celulares.
- Criar landing page para venda dos consertos e divulgá-la.
Vida longa a We Fix 🙂
Como resultado em menos de um mês os primeiros técnicos já estavam atendendo a clientes. O Lucas já havia criado um website para contratação de serviços através de uma plataforma ucraniana. Hoje a We Fix já possui uma plataforma automatizada de bastante qualidade, já trabalhou em cima dos principais problemas que surgiram nos testes. Logo ganharam alguns prêmios de destaque em programas e eventos como o StartupRS Digital, o Inovativa Brasil e o Sebrae Like a Boss. Enfim, eles ainda vem buscando escalar sua operação.
Um lembrete para quem está lendo
Negócios não morrem por falta de investimento, negócios morrem por falta de clientes. Não significa que captar investimento não seja bom ou inclusive necessário em alguns casos, mas importante saber que não deve ser o objetivo final de um negócio.
*Este conteúdo foi produzido por Cristian Schüler
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