No último post, falei sobre o futuro das aceleradoras e das 4 forças que, na minha opinião, irão moldar esse futuro: venture building, especialização setorial, veículo de investimento e corporate ventures. Nesse segundo post da série, vou falar sobre a primeira dessas tendências, que é o venture building.
Acredito que as aceleradoras irão se tornar mais flexíveis e mais parecidas com esse modelo de investimento.
Esse é um termo que tem ganhado muito hype ultimamente no universo de startups. Se ouve muito por aí: “Não sou aceleradora, sou venture builder.” ou “Não sou investidor anjo, sou venture builder.” Temos que ter cuidado para não transformar esse em outro conceito deturpado, como o próprio conceito de aceleradora.
Mas o que é venture building? Na definição, que também cita o sinônimo startup studios (cool, né?), é uma prática com objetivo similar ao das aceleradoras, que é de participar de empresas inovadoras que crescem muito, mas de uma outra forma. Nas aceleradoras, o processo é focado no networking, acompanhamento e capacitação de empreendedores. A aceleradora, por definição, não coloca a mão na massa. Ela ajuda os empreendedores fazendo as conexões certas, abrindo as portas certas e ajudando os empreendedores a dominar assuntos que não conhecem. Além do dinheiro de sobrevivência, é claro.
Já o venture builders colocam a mão na massa. Essa é a principal diferença. Além de apoiar com networking, os builders geralmente possuem uma equipe grande, full-time e multidisciplinar focada em apoiar os negócios e às vezes alocam times inteiros de vendas ou desenvolvimento de software nas empresas investidas. Outro elemento diferente é que os veture builders são mais protagonistas e ativos. Muitas vezes começam negócios do zero e quando selecionam empreendedores do mercado, muitas vezes adquirem uma participação relevante e às vezes até o controle da empresa (mais do que 50%).
É um nome novo para um conceito antigo. Muitas empresas e investidores praticam esse modelo há anos, montando um time de pessoas ou um departamento que tem como objetivo lançar novos produtos de forma sistemática.
Talvez o case mais conhecido de Venture Builder seja a Rocket Internet. Na home do site diz “We build companies.” Esse fundo alemão, que inclusive tem capital aberto é extremamente agressivo e conhecido por isso. Eles escolhem modelos escaláveis e replicáveis ou então pegam modelos já consagrados que possam ser replicados. E o que eles fazem com isso? Colocam um CAMINHÃO de dinheiro e aplicam estratégias extremamente agressivas de crescimento, geralmente com um objetivo de tomar o mercado o mais rápido possível. Eles sabem como construir e escalar empresas digitais MUITO rapidamente e simultaneamente em vários países.
O caso mais conhecido da Rocket no Brasil é o Easy Taxi. A empresa, que todo mundo conhece, nasceu no RJ em um Startup Weekend e foi investida pela Rocket quando começou a ter alguma tração. O que aconteceu? Investiu R$10 milhões em 2012, um valor desproporcional para uma empresa com um ano de vida, e depois mais R$90 milhões em 2014. A Easy Taxi desde então cresceu violentamente e se tornou o maior player do mundo no seu mercado, presente em todas as capitais do país e em outros 30 países. Depois, veio o 99Taxis para atrapalhar, mas essa já é outra história… O fundador, Tallis Gomes, saiu da operação em 2014. Isso mostra o estilo agressivo da Rocket. Quem são as melhores pessoas para crescer essa empresa AGORA? Não tem problema se a resposta for: “demitir” os fundadores.
No Brasil, o modelo de venture building mais interessante que conheço é o da AvantLab. Estão no início, mas vale a pena conferir.
Por que os venture builders vão ganhar espaço? As aceleradoras vão enfrentar cada vez mais competição e deverão ter modelos mais flexíveis. Terão o desafio de melhorar os seus serviços: agregar pessoas na equipe que agreguem mão-na-massa nas questões mais importantes (design, tecnologia e crescimento). Isso ajuda realmente as empresas a crescerem mais rápido.
Além disso, já vejo um movimento aceleradoras mais flexíveis em termos de ticket de investimento e participação acionária, em especial para aceitar realmente as melhores empresas, mais avançadas e promissoras, que não se interessariam pela oferta média das aceleradoras no país: aproximadamente R$50mil por 15-20% de participação.
Bruno Peroni foi sócio-fundador da Semente Negócios.