O que, afinal, é Valuation?
Um termo muito utilizado quando estamos falando sobre investimentos em negócios inovadores e Startups é o Valuation, embora logo venha acompanhado por altas doses de desconfiança, incerteza e incompreensão, inclusive de pessoas que fazem parte do ecossistema de inovação. Por isso, queremos desmistificar de uma vez por todas o que é o Valuation, como podemos calculá-lo e como podemos usá-lo da melhor forma em uma negociação de investimento levando em conta as características particulares do nosso negócio.
A palavra Valuation é traduzida da língua inglesa como Avaliação; isto é, o quanto o seu negócio é avaliado no mercado. Como sabemos que o mercado congrega um elevado número de agentes econômicos transacionando produtos e serviços, não podemos simplesmente perguntar ao mercado o quanto nosso empreendimento vale. O mercado é invisível, intangível e incomunicável. Assim, quem pode nos dar pistas do valor do nosso empreendimento é uma amostra do mercado composta por participantes relevantes do mercado e do nosso segmento. Por isso, o valor percebido do seu negócio pela colega de faculdade ou pelo seu tio, que provavelmente ficou sabendo da sua ideia no almoço de domingo, não vão impactar expressivamente a percepção que o mercado tem do seu negócio. A menos que a sua colega seja Jeanne Liedtka e o seu tio Aswath Damodaran, eles não representam players relevantes no mercado. No entanto, vale dizer que nem mesmo eles poderiam lhe fornecer a resposta definitiva para a pergunta “quanto vale minha empresa?”, justamente porque a resposta invariavelmente depende da perspectiva de quem está do outro lado avaliando. E quem está lá são os investidores.
“Valuation de empresas early stage [fase inicial] não é determinado por 1 cálculo, é subjetivo, e determinado e comparado mais pela emoção do que pela lógica. A Startup pode falar o que quiser à respeito do Valuation, mas o que determina é o que os investidores estão dispostos a pagar”. Greg Brown, Administrador e responsável pelo Charlotte Angel Fund
Resumindo
Valuation é avaliação do mercado. Como o mercado não existe fisicamente, tentamos desvendar a avaliação através da opinião de agentes econômicos relevantes. Por mais que o cálculo (chute) do Steve Blank valha mais que o do seu primo, ambos têm em comum o fato de serem estimativas (chutes). Até marcar o gol, não temos confirmação de nada, por mais que um esteja na linha de pênalti e o outro no meio-de-campo. Dessa forma, o que vai provar o Valuation como, de fato, “verdadeiro” é alguém tirar o dinheiro estipulado do bolso e assumir o risco de entrar nesse negócio com você. Em termos práticos, se um investidor está aportando 1 milhão de reais por 20% do seu negócio, a sua empresa vale 5 milhões. Se um investidor está aportando 100 mil por 10%, ela vale 1 milhão. No entanto, o empreendedor não pode simplesmente bater na porta do investidor e esperar que aconteça uma negociação justa. Ele precisa entender profundamente as regras do jogo em que está entrando para otimizar o valor do seu negócio, e é exatamente sobre isso que falaremos agora.
As regras do jogo
Para entender as regras do jogo em que você está entrando, primeiro você precisa entender a cabeça do investidor, por isso vamos fazer um experimento mental hipotético. Imagine você que eu sou uma investidora sênior que decide colocar 1 milhão por negócio para 10 Startups. Ao total, naturalmente, terei investido 10 milhões. Segundo Bob Zider, em seu no artigo para a Harvard Business Review, “How Venture Capital Works,”o retorno de um investimento de risco gira em torno de 25% a 35% por ano. Isso quer dizer que, ao final de 5 anos, o retorno esperado para o meu investimento de risco de 10 milhões será o de, no mínimo, aproximadamente 30 milhões. Isso quer dizer que cada Startup deve crescer 300%. No entanto, sabemos que não é isso que ocorre na prática, pois nem todas conseguem chegar até lá. De acordo com o artigo “Why Most Venture Backed Companies Fail,“75% das startups apoiadas por capital de risco quebram. Estatística também embasada por outro estudo, este do professor da Harvard Business School, Shikhar Ghosh. Portanto, neste meu exemplo hipotético, 3 Startups serão responsáveis pela performance de 25% a 35% do meu investimento, isto é dizer que cada uma deve crescer 900% (!) para conseguir o rendimento esperado.
Portanto, fique esperto, pois não existe dinheiro de graça, ele vai cobrar o preço mais cedo ou mais tarde. O investimento tanto pode escalar o seu negócio, como enterrá-lo de vez, tudo a um ritmo muito acelerado. Portanto, não entre em uma negociação de investimento querendo captar o máximo de capital possível, porque você deve ter consciência que este dinheiro terá que ser multiplicado e quanto maior a entrada, maior terá que ser o montante final. Além de ter uma próxima rodada prejudicada no caso de um investimento muito alto de início.
O ideal é que o empreendedor saiba, ou pelo menos faça uma análise anterior do quanto precisa de capital e, melhor, para o que precisa dele. Assim, evita-se que aconteça a queima do capital onde não deveria, o que por sua vez compromete a geração de retorno financeiro, o que por fim (adivinha?) vai acabar quebrando de vez com o negócio. Segundo levantamento feito pela Statistic Brain no estudo Startup Business Failure Rate by Industry, em que analisaram CEOs de negócios que faliram, existem 7 principais falhas que eles cometiam:
- Falta de foco
- Falta de motivação, comprometimento e paixão
- Orgulho exacerbado, resultando em uma má vontade de ver ou ouvir os outros
- Tomar conselho de pessoas erradas
- Falta de boa mentoria
- Falta de conhecimento de negócios geral e específico: finanças, operações e marketing
- Levantar muito dinheiro muito cedo
Se olharmos para o conjunto dessas falhas, percebemos que excluídas as competências e motivações pessoais, que dependem exclusivamente do autoconhecimento do empreendedor e da sua motivação em mudar, as outras são todas relativas a maus julgamentos e escolhas, que se refletem em emprego de capital no lugar errado. Dito de outra forma, o capital do investimento por si só não opera milagres, caso o empreendedor não queira ouvir terceiros ou ouça os terceiros errados e ainda levante dinheiro muito cedo, provavelmente vai acabar no buraco.
Por isso, na hora de mostrar os números que veremos em seguida para os investidores, lembre-se sempre: ter um negócio financeiramente estruturado não é bom somente para passar segurança e dissuadir o investidor a apostar em você. Não! Acima de tudo, e em poucas palavras, é uma forma de evitar com que você quebre o seu próprio empreendimento- além dos benefícios óbvios (mas, às vezes, não tão óbvios) de permitir com que se adote uma melhor estratégia de crescimento, seja tanto por conseguir visualizar a performance financeira passada quanto por conseguir projetar melhor o crescimento futuro.
*Este conteúdo foi produzido por Catharina Becker