O que aprendi no Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto

Sumário


“Como estourar as bolhas das startups e das grandes empresas para gerar impacto social positivo?” Este foi o tom do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, maior fórum sobre o tema da América Latina que aconteceu nos dias 06 e 07 de junho em São Paulo.
O fórum arquitetou diferentes trilhas de conteúdo que investigavam aproximações possíveis entre o tema do evento e o governo, as grandes empresas, a periferia e questões de raça e gênero, e meio ambiente.
Você pode assistir a todos os painéis por aqui.
Como consultora de negócios e gestora de programas que apoiam negócios de impacto aqui da Semente, compartilho uma frase de cabeceira que guia minha vida profissional e que servirá de pano de fundo para esse texto:

“Business cannot succeed in societies that fail.”
(Negócios não tem sucesso em sociedades que falham, em tradução livre) Björn Stigson, ex-presidente do World Business Council for Sustainable Development (CEBDS).

Com isso em mente e, a partir de debates e trocas que experienciei na última semana, quero dividir alguns fragmentos com vocês.  


1. Não podemos pensar o futuro dos negócios sem pensar o futuro do meio ambiente e dos elementos essenciais à vida.

Já não é suficiente cortar o consumo de canudinhos, controlar o tempo de banho ou separar o lixo. Essas ações eram “legais” em 1990. Agora, em 2018, precisamos ativamente construir soluções que retrocedam os danos causados pelas nossas formas tradicionais de consumo e ocupação do espaço.  
Nesse sentido, os negócios de impacto social são uma opção ao modo de produção como o conhecemos. Não substituem o estado, mas apresentam um potencial de o qualificar e o complementar, garantindo a atuação da sociedade civil na construção de um novo sistema, mais consciente e ativo na geração de benefícios para todas as pontas da cadeia.  

Você pode conhecer as ODS aqui

Vários atores e atrizes estão articulados nesse movimento no Brasil: em 2017 foram mapeados 579 negócios de impacto, dos quais 70% já estão formalizados. Estes negócios estão concentrados nas regiões sudeste e sul e atuam, principalmente, nas áreas de educação, tecnologias verdes e cidadania.
Destes, 5% faturaram entre R$ 1,1 milhão e R$ 2 milhões no último ano. Entretanto, 42% ainda não capturaram investimentos e 46% apontam “dinheiro/busca de investidor” como problema mais urgente. (2)
E olha só: segundo pesquisa realizada pela Global Impact Investing Network (GIIN), o mercado mundial de investimentos de impacto movimentou aproximadamente US$ 114 bilhões em ativos em 2016. Destes, 19% (U$ 22,1) representam o capital investido em negócios de impacto (3).
Como podemos aumentar esses números para que mais recursos cheguem à esses negócios? Uma das opções viáveis é pensar aproximações entre grandes empresas e negócios de impacto.


2. Precisamos construir e atravessar pontes entre grandes empresas e negócios de impacto.

Muito embora fosse mais do que necessário uma mudança brusca nas estratégias de grandes corporações, no sentido de orientar ações na geração de impactos socioambientais positivos, entendo muito bem que um transatlântico não pode dar cavalinho-de-pau.  A provocação útil e que gera reflexões é aquela que nos coloca na interseção entre a paciência (para entender que grandes transformações necessitam de tempo) e o senso de urgência (que nosso ecossistema nos endereça). É somente nessa intersecção que podem nascer projetos duradouros e sustentáveis, que geram valor para todos da cadeia produtiva.  
Algumas pontes já foram cruzadas. Nestes casos, coube a líderes de grandes empresas reconhecer seu campo de ação enquanto agentes influenciadores da sociedade e ampliar seu olhar sobre as demandas latentes da mesma. Puderam com isso, auxiliar na execução de soluções propostas ou co-criadas com empreendedores de impacto. Estes, por sua vez, adaptaram-se e ofereceram soluções de grande valor e potencial de escala.  
Conheça o Projeto Girassol, parceria entre a FIAT e a SUNEW que desenvolve pesquisas para uso de um sistema fotovoltaico, ou seja, movido à luz solar para a geração de energia elétrica.
Estes processos só são possíveis quando nos propomos a sair de nossas bolhas egocentradas e exercitamos um olhar mais empático e ecossistêmico. Nesses momentos, é preciso colocar à mesa diferentes realidades e percepções que despertem espaços caórdicos e criativos.


3. Precisamos reconhecer o desafio das iniciativas invisibilizadas: o empreendedorismo negro, feminino e de periferia

Colocar-se à mesa com outros que não compartilham o mesmo sistema de crenças que o nosso é sempre desafiador. Por isso, sempre que necessito mediar conflitos, incentivo que os grupos busquem um elemento comum às partes antes de iniciarem um diálogo. As vezes é um sonho, um time de futebol ou uma dor compartilhada.
Digo isso porque aqui exigirei um exercício de empatia, já que, muito provavelmente, assim como eu, você pertença aos 5% dos brasileiros que concentra a maior parte da renda de nosso país e está distanciada do contexto a seguir.
Segundo o relatório de 2017 do Força Tarefa as iniciativas ligadas a questões de raça, gênero e periferia estão entre as temáticas que menos avançam quando falamos de negócios de impacto.  Isto ocorre por uma complexidade enorme de fatores associados a um sistema que invisibiliza esta população.
Existem também particularidades e complexidades que compõem as narrativas dessas iniciativas. Estes movimentos, justamente pela sua territorialidade e aspectos próprios, não podem estar sob as mesmas métricas e réguas de negócios de tecnologia iniciados e incubados em parques tecnológicos, por exemplo.
Adriana Barbosa, representante do Feira Preta colocou sabiamente a necessidade de reconhecer as lideranças jovens, que hackeiam o sistema, reconhecem suas realidades e de seus públicos, suas linguagens, e desenvolvem, com profunda propriedade, soluções para a “periferia”.

Surge assim o termo “da base para a base”. Soluções que são pensadas, investigadas e prototipadas da base da pirâmide para a base da pirâmide.

juliano trevizan, ellen carbonari, mauricio vidor e eduardo maneira no fórum de finanças sociais
Consultores da Semente no Fórum de Finanças Sociais. Da esquerda para a direita: Juliano Trevizan, Ellen Carbonari. Mauricio Vidor e Eduardo Maneira.

Nessas “periferias” existe uma centralidade que é composta, há anos, por um empreendedorismo de sobrevivência, de colaboração e autonomia, que compõem o instrumental de liberdade das pessoas.  Gostaria de destacar uma feliz iniciativa que integra essa narrativa, a Conta Black, fintech destinada à população desbancarizada, que democratiza o acesso à serviços financeiros e promove a educação financeira domiciliar nas comunidades em que atua. Veja mais dessa iniciativa incrível e saiba como apoiá-la aqui.
      

Estourando bolhas e construindo pontes para a geração de impacto

De tantos fragmentos e espaços de discussão necessários, retomo a pergunta inicial a partir da reflexão aqui exposta: Afinal, como podemos estourar bolhas e construir pontes, entendendo que:
(I) não podemos pensar o futuro dos negócios sem pensar o futuro do meio ambiente e dos elementos essenciais à vida;
(II) que precisamos construir e atravessar pontes entre grandes empresas e negócios de impacto e que
(III) é necessário reconhecer o desafio das iniciativas invisibilizadas?

Vamos dialogar?

Referências:

1) Relatório 2017: Avanços, conquistas e orientações para o futuro. Força Tarefa de Finanças Sociais. Disponível em: https://forcatarefa-assets.s3.amazonaws.com/uploads/2018/05/Relat%C3%B3rio-2017-For%C3%A7a-Tarefa-de-Finan%C3%A7as-Sociais.pdf

2) Mapa de negócios de impacto 2017. Disponível em:

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